Pelé e o dever de contextualizar, até daqui a 75 anos
"Não jogou em um grande europeu", "não disputou Liga dos Campeões", "maioria dos gols em Estaduais".
O maior problema de quem avalia Pelé ou qualquer personagem do passado é usar os parâmetros atuais para analisar épocas remotas.
Anos 1960, telefonia precária, sem internet, aviação sem o alcance e a acessibilidade de hoje. Pior: jogar no exterior significava ser esquecido pela seleção brasileira. Sem acesso à informação sequer em âmbito nacional, a visão provinciana, restrita ao próprio quintal, transformava os estaduais nas principais competições do país, com a Taça Brasil – ou seja lá que nome tivesse na época – e até a Libertadores relegadas a segundo plano.
Certo ou errado, era este o Brasil de Pelé, que tinha como sonho defender o Santos e a seleção brasileira. Nem Barcelona, nem Ferrari. Apenas jogar bola.
E como jogou! Talento associado à inteligência, combinando com preparação física, concentração, seriedade em todos os jogos. Em época de "amadorismo remunerado" e um jogo lento e pouco intenso, o gênio virou Rei.
Os recordes caíram um a um, ainda que a contagem de gols seja sempre discutível em tempos anteriores à Era da Informação. Mas façamos um exercício na direção contrária:
Imaginemos um menino de 17 anos marcando seis gols numa Copa do Mundo, todos nas fases decisivas. A favor de um campeão inédito, apenas oito anos depois de perder o título em casa de forma traumática. Com direito a gol antológico na final contra o país sede.
Nem é preciso adicionar o resto de sua carreira nesta hipótese. Hoje, em tempos midiáticos, de hiperestímulos e construção de mitos. O que seria Pelé?
É este homem que completa mais um aniversário e o gênio que não pode ficar relegado a uma foto em preto e branco. Vida longa ao Rei! E que sigamos contextualizando e explicando seu legado, pelos próximos 75 anos.
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