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André Rocha

A maior rivalidade no Brasil em 2015 pode salvar ou condenar o Vasco

André Rocha

30/11/2015 06h45

Nem Gre-Nal, nem Atlético contra Cruzeiro ou os duelos entre o trio de ferro em São Paulo. A maior rivalidade entre  grandes clubes brasileiros em 2015 foi Vasco x Fluminense.

Nem tanto em campo, apesar da vitória por 1 a 0 que iniciou a recuperação vascaina no Estadual que terminou com título depois de 12 anos. Ou um dos raros triunfos cruzmaltinos no primeiro turno do Brasileiro: 2 a 1 no Maracanã festivo pela apresentação de Ronaldinho Gaúcho com a camisa tricolor. Na volta, quando o Gigante da Colina precisava mais dos três pontos para fugir do rebaixamento, 1 a 0 para o Flu, gol de Gérson.

A maior guerra foi nos bastidores. Da FERJ, com Eurico Miranda novamente presidente e voltando ao cenário como aliado do presidente Rubens Lopes contra Fla e Flu, que se sentiram prejudicados na disputa do Carioca. O imbróglio por conta do lado direito das arquibancadas no Maracanã – o tricolor e seu contrato com o consórcio que administra o estádio, Vasco usando a história e a tradição a favor. Também a discussão sobre meia-entrada nas partidas que prejudicariam financeiramente a dupla Fla-Flu, que não tem estádio próprio.

Depois Ronaldinho. 90% acertado com o time da Cruz de Malta nas palavras do próprio Eurico e depois parando nas Laranjeiras para jogar pouco e não deixar saudades. Fora as reclamações do Flu por conta das arbitragens no Estadual e até o "Caso Paulo Vítor", com o clube das Laranjeiras acusando o Vasco de aliciar um jovem de 15 anos e a CBF indenizando o tricolor em 1,5 milhão de reais.

Agora, o Vasco depende de uma vitória sobre o Coritiba no Couto Pereira e que o Fluminense, praticamente de férias, não perca para o Figueirense em Florianópolis. Também que o Avaí não vença o campeão Corinthians em Itaquera – mais possível e até provável. Tudo para evitar o terceiro rebaixamento em sete anos. Direto ao ponto: a polêmica sobre entrega de resultado está de volta.

O futebol não é um mundo à parte. Os jogadores não vivem só para treinar e jogar. Também circulam pela cidade e encontram torcedores que, passionais, exigem o revés que nada significaria para o clube em termos práticos, mas feriria de morte o rival.

Algumas derrotas entraram para a história do Campeonato Brasileiro. De Corinthians e Grêmio para o Flamengo nas últimas rodadas do Brasileiro de 2009 que prejudicaram São Paulo e Internacional na disputa pelo título. Também de São Paulo e Palmeiras para o Fluminense no ano seguinte que tiraram as chances de conquista do Corinthians. Tão sintomáticas que fizeram a CBF, de 2011 a 2013, marcar clássicos estaduais para a rodada derradeira.

Há uma diferença sutil entre entregar o jogo e não fazer questão da vitória. Em um futebol brasileiro tão parelho, o abismo de interesse e concentração entre uma equipe disputando título ou contra o rebaixamento e outra sem maiores aspirações e ainda com o "estímulo" da torcida para não fazer muita força na maioria das vezes define o resultado final.

É o que pode acontecer domingo no Orlando Scarpelli. O cenário da semana está armado. O Vasco, representado por Eurico, o técnico Jorginho e os jogadores, jogará toda a responsabilidade para o rival. Certamente usando termos como "honra" e "caráter" com o intuito de mexer com os brios dos profissionais tricolores. No Flu, parte da torcida cobrando a perda dos três pontos que para ela seria a mais saborosa vitória em 2015. Como será?

Para o Vasco é essencial não desviar a atenção do desafio que será superar fora de casa um Coritiba redivivo após três vitórias seguidas e ainda precisando de um ponto para se garantir na Série A. Mas como jogar sem olhar para o que acontece em São Paulo e, principalmente, Santa Catarina?

Assim como é impossível não lembrar da provocação a Eurico Miranda no perfil oficial do Fluminense depois da vitória no último clássico: "E o charuto apagou. Ponto. Eu escolhi apagar". Apaga ou reacende o maior antagonismo do ano? Respostas no fim de semana.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.