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André Rocha

Neymar finalista da Bola de Ouro. A arrogância brasileira está de volta

André Rocha

01/12/2015 06h55

Neymar é finalista da Bola de Ouro FIFA/France Football. Um brasileiro desde Kaká em 2007. Mais que justo. Artilheiro da Liga dos Campeões com gols em todas as fases decisivas, fundamental na conquista da tríplice coroa do Barcelona e agora protagonista e goleador da equipe no segundo semestre.

Ótimo para o futebol do Brasil. Mas não mudamos de patamar por isso como já começam a tentar fazer acreditar aqui e acolá. A velha arrogância brasileira quando o assunto é o esporte bretão.

Neymar evoluiu dentro da filosofia do Barcelona. De futebol coletivo que privilegia o talento. O mesmo, ainda com Guardiola no comando, que ficou com a bola e fez o então camisa onze do Santos assistir ao jogo dentro de campo nos 4 a 0 do Mundial Interclubes em Yokohama.

Primeira temporada de aprendizado dentro do time inconstante e engessado de Gerardo Martino. Algumas partidas mal escalado aberto na ponta direita. Com Luis Enrique e a chegada de Suárez para formar o já histórico trio MSN, a explosão. Agora a afirmação.

Mas para os mais ufanistas é bom lembrar: a Bola de Ouro será de Messi. Um primeiro semestre de extra-terrestre. Talvez vença também o Prêmio Puskas pelo golaço na final da Copa do Rei sobre o Athletic Bilbao – por mais que Wendell Lira mereça nossa torcida. Ainda artilheiro da equipe e, pela direita, sendo extremo, meia e camisa dez. No Barça que ganhou tudo, o ponto de partida era o argentino. A lesão no início da temporada 2015/16 não coloca Neymar acima.

Nem o futebol brasileiro. Nossas equipes vão aprendendo e colocando em prática os novos conceitos, mas ainda há atraso. Porque nos grandes centros seguem evoluindo e aprimorando ainda mais o jogo em 30 metros. É neste universo que temos compatriotas de Neymar se destacando, como Willian, Douglas Costa, Philippe Coutinho, Hulk…

De repente, saímos da "geração medíocre" diretamente para "o campeão voltou".  Calma…O Brasil pode voltar a formar uma grande seleção, sim. Talvez não com Dunga. Mas o tempo de apenas reunir os talentos e deixá-los resolver em campo passou. A presença de Jorge Sampaoli entre os três melhores treinadores do planeta pelo que faz na seleção chilena é ótimo lembrete.

Por isso Neymar destroi na Europa com atuações consistentes e na seleção é obrigado a viver de lampejos. Inclusive voltou sem jogar bem, contra Argentina e Peru. Como é muito acima da média vai quebrando recordes e fazendo história. Falta, porém, um time para acompanhá-lo.

Também falta humildade. Não para a estrela solitária do país cinco vezes campeão mundial, que está feliz pela indicação, mas sabe que ainda não é o seu ano. O problema é o oba-oba, a empolgação desmedida ou o interesse de quem capitaliza com qualquer vitória brasileira.

Neymar é superior ao melhor belga, inglês, holandês, italiano e até alemão. Mas o futebol não é tênis. É coletivo. 7 a 1, lembra? Sigamos aprendendo, então. Em silêncio, de preferência.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.