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André Rocha

Mourinho x Guardiola na Inglaterra? Ótimo para a liga, nem tanto para eles

André Rocha

22/12/2015 12h45

Jose_Mourinho_Pep_Guardiola-Reuters

Pep Guardiola não seguirá no Bayern de Munique, que terá Carlo Ancelotti para a temporada 2016/17. José Mourinho demitido no Chelsea pela campanha pífia na defesa do título no inglês.

Rumores do catalão sucedendo Mourinho nos Blues. Ou no City. Já o português pode seguir na Inglaterra, mas no Manchester United – Van Gaal balança com a eliminação na Liga dos Campeões e o mau momento na Premier League.

Podemos ter de volta em um mesmo país o duelo que mudou o futebol desde 2010: Guardiola x Mourinho. A revolução contra a reação. Posse versus transição. Ataque de posição contra o "ônibus". Dois mundos que sequer se tangenciam, apenas colidem.

Inclusive fora de campo, com os "jogos mentais" de Mourinho e a tensão de Guardiola, absorvido pela essência do jogo. Foi Pep quem abandonou o barco em 2012, exausto com os duelos entre Barcelona x Real Madrid. Também derrotado na última temporada.

Só que o futebol seguiu evoluindo. Muito por conta deste antagonismo, que induziu treinadores a tentar buscar o melhor dessas duas filosofias que, no fundo, são complementares.

Ancelotti conseguiu dosar posse e transição rápida no Real Madrid de "La Decima". Luis Enrique aprimorou ainda mais a ideia no Barcelona com a troca de passes no DNA, mas também trabalhando bola parada, contragolpes e força nos duelos individuais com o acréscimo de Suárez e Neymar.

A inserção na intensidade do futebol inglês pode ser ótima para Guardiola. Assim como a competitividade que não encontrava na Alemanha. No Bayern, o desafio ainda é vencer a Champions. Nas outras temporadas, perdeu exatamente para as duas máquinas citadas no parágrafo anterior. O time bávaro, desfalcado pelos problemas físicos que o departamento médico não consegue minimizar, caiu diante do melhor de Cristiano Ronaldo e Messi.

Também um paradoxo. O caminho mais tranquilo na Bundesliga permitiu dosar melhor o elenco e sentir menos as ausências até a semifinal do torneio continental. Mas exatamente a falta de um rival mais poderoso certamente contribuiu para que o time fenecesse quando encarou as outras duas potências mundiais – incluindo o universo de seleções.

Na Inglaterra, Guardiola poderá consolidar as mudanças que já se faziam notar no Bayern: intensidade e rapidez no último terço de campo, posse de bola apenas para a saída organizada, posicionando a equipe no campo rival.

Já Mourinho tem a chance de se reinventar. Na gestão de grupo que não funcionou na terceira temporada em Real e Chelsea. Na reconstrução do personagem que não precisa ser tão "rock'n'roll" como na tese do livro "Mourinho Rockstar", de Luis Aguilar (Editora Grande Área).

No campo, o "anti-Guardiola" em grandes jogos beirou a irresponsabilidade, como na eliminação em casa para o PSG na última edição da Champions. O seu Chelsea perdeu a capacidade de propor o jogo, ser protagonista. Até em jogos menos difíceis a tendência era sempre atrair o adversário e explorar os espaços às costas da retaguarda. Recurso legítimo. Mas o futebol em altíssimo nível pede equipes mais completas.

O perigo é ver Guardiola do outro lado e eclodir o Mourinho anti-heroi, aquele que não se importa em personificar "o mal" e encarar o rival histórico com a obsessão dos tempos de Madrid. Até porque ambos seguem como referências de treinadores mundo afora. Mas suas equipes não conseguem o protagonismo na Europa.

Na disputada Premier League, cada vez mais parelha, até pela divisão mais equilibrada da grana farta da TV, Guardiola e Mourinho precisam evoluir, tornar suas ideias relativas ao jogo ainda mais abrangentes. Versatilidade é a palavra. Ou inteligência.

Há um enorme risco da dupla se consumir dentro da Inglaterra em uma liga ainda mais espetacular e falhar novamente na disputa além das fronteiras. Títulos nacionais não faltam nos currículos recentes. O desafio é voltar a levantar a Champions e a EPL, que não permite pausas para respirar e ainda conta com técnicos como Jurgen Klopp e Arsene Wenger para rivalizar, pode atrapalhar. Por mais incrível que isto possa parecer.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.