Ponta, dez, falso nove: Messi "camaleão", o maior gênio tático desde Cruyff
É bem provável que Lionel Messi não se torne treinador ou dirigente. Muito menos um pensador e frasista como Johan Cruyff. Talvez ele nem reflita muito sobre futebol. Ou mesmo assista nas horas vagas. Mas em campo e em silêncio o argentino é um gênio tático quase tão versátil quanto o holandês onipresente em campo na Holanda de 1974, mas também no Ajax e no Barcelona.
Porque Messi sabe o que precisa fazer. Seja como o ponta vertical das diagonais perfeitas em direção ao gol em 2009, o meia atacante atrás de Ibrahimovic em 2010, o "falso nove" descoberto por Pep Guardiola dois anos antes e aprimorado em 2011 e a fase mais "centroavante", finalizador em 2012 – o ano dos 91 gols, superando Gerd Muller como o maior artilheiro em um ano completo.
Hoje deve receber a quinta Bola de Ouro em Zurique. No dia em que o mundo chora por David Bowie, o "Camaleão do Rock" capaz de se reinventar tantas vezes na música que partiu aos 69 anos.
Porque o primeiro semestre de 2015 pode não ter visto o Messi mais arrebatador. Mas certamente testemunhou o recital mais completo de um dos gigantes de todos os tempos. O melhor que este que escreve viu jogar ao vivo.
Luis Enrique devolveu o camisa dez à ponta direita para abrigar Luis Suárez e Neymar no tridente ofensivo. Com Xavi no banco e na reta final da carreira, Messi se viu obrigado a colaborar mais na articulação.
Recua e recebe a bola numa zona "morta" e difícil de precisar: entre a ponta e a meia direita. Nem "sete", nem "oito". Talvez um sete e meio. E parte. Corta para dentro e arranca. Ou trabalha com Daniel Alves e Rakitic fazendo o corredor. Pode também trocar com Suárez procurando o centro às costas dos volantes adversários. Ou inverter para Neymar e correr para a área e finalizar.
Ou ainda ficar à direita, mas resolver tudo sozinho. Como no golaço antológico sobre o Athletic Bilbao que pode render também o Prêmio Puskas. Fazer fila em uma final de campeonato não é para qualquer um. E o paradoxo: há quem defenda os outros dois candidatos menosprezando a obra prima na decisão da Copa do Rei com o singelo argumento "Ah, é o Messi!"
Na temporada 2014/2015, foram 58 gols e 26 assistências em 57 partidas pelo Barca. Sim, houve a perda da Copa América para o Chile com a seleção argentina e um segundo semestre de lesões que dão alguma chance a Neymar, desequilibrante no período da votação e artilheiro da Liga dos Campeões com os mesmos dez gols de Messi, mas marcando em todas as fases de mata-mata.
Porém a própria FIFA, numa gafe histórica em seu site, já colocou Messi como o melhor de 2015. Porque na fase mais brilhante do Barcelona histórico do trio MSN, tudo começava no pé esquerdo de Lionel. O Messi "camaleão" que muda de "pele" com o tempo e de acordo com a necessidade. Um gênio tático. O maior desde Cruyff.
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