Topo

André Rocha

Ponta, dez, falso nove: Messi "camaleão", o maior gênio tático desde Cruyff

André Rocha

11/01/2016 08h01

Messi 2015 edit

É bem provável que Lionel Messi não se torne treinador ou dirigente. Muito menos um pensador e frasista como Johan Cruyff. Talvez ele nem reflita muito sobre futebol. Ou mesmo assista nas horas vagas. Mas em campo e em silêncio o argentino é um gênio tático quase tão versátil quanto o holandês onipresente em campo na Holanda de 1974, mas também no Ajax e no Barcelona.

Porque Messi sabe o que precisa fazer. Seja como o ponta vertical das diagonais perfeitas em direção ao gol em 2009, o meia atacante atrás de Ibrahimovic em 2010, o "falso nove" descoberto por Pep Guardiola dois anos antes e aprimorado em 2011 e a fase mais "centroavante", finalizador em 2012 – o ano dos 91 gols, superando Gerd Muller como o maior artilheiro em um ano completo.

Hoje deve receber a quinta Bola de Ouro em Zurique. No dia em que o mundo chora por David Bowie, o "Camaleão do Rock" capaz de se reinventar tantas vezes na música que partiu aos 69 anos.

Porque o primeiro semestre de 2015 pode não ter visto o Messi mais arrebatador. Mas certamente testemunhou o recital mais completo de um dos gigantes de todos os tempos. O melhor que este que escreve viu jogar ao vivo.

Luis Enrique devolveu o camisa dez à ponta direita para abrigar Luis Suárez e Neymar no tridente ofensivo. Com Xavi no banco e na reta final da carreira, Messi se viu obrigado a colaborar mais na articulação.

Recua e recebe a bola numa zona "morta" e difícil de precisar: entre a ponta e a meia direita. Nem "sete", nem "oito". Talvez um sete e meio. E parte. Corta para dentro e arranca. Ou trabalha com Daniel Alves e Rakitic fazendo o corredor. Pode também trocar com Suárez procurando o centro às costas dos volantes adversários. Ou inverter para Neymar e correr para a área e finalizar.

Flagrante de Messi circulando às costas dos volantes entrando por dentro e Luis Suárez abrindo para arrastar a marcação ou receber a bola à direita.

Flagrante de Messi circulando às costas do meio-campo adversário, entrando por dentro e Luis Suárez abrindo para arrastar a marcação ou receber a bola à direita (reprodução ESPN Brasil).

Gol de Neymar sobre o PSG: Messi aparece no centro e serve o brasileiro infiltrando em diagonal (reprodução ESPN Brasil).

Gol de Neymar sobre o PSG: Messi aparece no centro e serve o brasileiro infiltrando em diagonal (reprodução ESPN Brasil).

Ou ainda ficar à direita, mas resolver tudo sozinho. Como no golaço antológico sobre o Athletic Bilbao que pode render também o Prêmio Puskas. Fazer fila em uma final de campeonato não é para qualquer um. E o paradoxo: há quem defenda os outros dois candidatos menosprezando a obra prima na decisão da Copa do Rei com o singelo argumento "Ah, é o Messi!"

Na temporada 2014/2015, foram 58 gols e 26 assistências em 57 partidas pelo Barca. Sim, houve a perda da Copa América para o Chile com a seleção argentina e um segundo semestre de lesões que dão alguma chance a Neymar, desequilibrante no período da votação e artilheiro da Liga dos Campeões com os mesmos dez gols de Messi, mas marcando em todas as fases de mata-mata.

Porém a própria FIFA, numa gafe histórica em seu site, já colocou Messi como o melhor de 2015. Porque na fase mais brilhante do Barcelona histórico do trio MSN, tudo começava no pé esquerdo de Lionel. O Messi "camaleão" que muda de "pele" com o tempo e de acordo com a necessidade. Um gênio tático. O maior desde Cruyff.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.