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André Rocha

Messi e Guardiola: os gênios que fazem quase tudo parecer pouco

André Rocha

23/02/2016 22h28

Se há um marco de mudança do futebol deste século, ele veio em 2009 quando Pep Guardiola convocou Messi para mostrar em vídeo o espaço que havia entre a defesa e o meio-campo do Real Madrid e pediu a ele que circulasse por ali. 6 a 2 no Santiago Bernabéu.

Nascia o Messi "falso nove", um gênio tático a empilhar títulos, prêmios e Bolas de Ouro. A obra prima do treinador igualmente brilhante que amadureceu suas ideias naquela noite e consolidou seu igualmente complexo e vistoso estilo de jogo.

Os personagens desta terça-feira histórica da Liga dos Campeões, com jogos espetaculares.

No Emirates Stadium, faltou ao Barcelona um pouco de Guardiola. Leia-se controle de jogo, especialmente no primeiro tempo. Apesar da posse que chegou aos 71%. O time de Luis Enrique preza a bola, porém é mais vertical. Não tem um plano de circulação da bola que mine as forças do rival. Troca passes, mas procura logo o tridente espetacular.

Não conseguiu, por mérito da concentração e da entrega do Arsenal na proposta reativa que se impôs pela marcação adiantada. Só faltou contundência na frente. O lance que podia ter mudado a rota do confronto no pé direito de Oxlade-Chamberlain. Escalado por Arsene Wenger pelo maior vigor em pressão e recomposição no setor de Alba e Neymar, falhou na conclusão que permitiu a grande defesa de Ter Stegen, que depois salvaria cabeçada de Giroud.

A senha para um Barcelona mais aceso e coordenado para sair da pressão na saída de bola que os Gunners tentaram repetir. E espaços, mesmo que não tão genersosos, para Messi, Suárez e Neymar costumam terminar nas redes. Até de Petr Cech, que no Chelsea não fora superado pelo argentino.

Até Suárez acionar Neymar, que serviu o gênio para começar a decidir o jogo. Depois Messi encaminhou a classificação no pênalti sofrido e convertido. 65% de posse, 16 finalizações a sete. Dois a zero para administrar no Camp Nou. Vitória espetacular, mas pareceu faltar alguma coisa. Não basta o pragmatismo. É preciso o brilho, o fulgor que faz do Barcelona de Messi um time histórico.

Arsenal no 4-2-3-1 alternando pressão e compactação no próprio campo para conter o Barcelona no 4-3-3 habitual, com posse, porém pouco efetivo no primeiro tempo. Até Messi resolver.

Arsenal no 4-2-3-1 alternando pressão e compactação no próprio campo para conter o Barcelona no 4-3-3 habitual, com posse, porém pouco efetivo no primeiro tempo. Até Messi resolver (Tactical Pad).

Porque a exigência aumenta por quem pode entregar muito. Como o outro grande construtor deste novo futebol. Pep Guardiola, mesmo em meio a questionamentos e críticas em Munique por já estar com a cabeça em Manchester, armou um Bayern sem zagueiros de ofício e ultraofensivo em Turim.

Se defendendo da vice-campeã da última edição do torneio continental, invicta há 14 partidas antes do jogo, ficando com a bola. Intensidade,volume, controle entre as intermediárias com Lahm, Alaba, Thiago Alcântara e Vidal, esgarçando a marcação com Robben e Douglas Costa pelas pontas e procurando Muller e Lewandowski.

Posse que chegou a 77%, gols de Muller e Robben, este na sua jogada característica cortando da direita para dentro. Mas natural queda de intensidade na segunda etapa, quando ter a bola funciona como pausa, administração do vigor físico. Calma para anestesiar o rival. Costuma funcionar na liga alemã.

Bayern de Guardiola manteve postura ofensiva em Turim, com praticamente quatro atacantes e muito volume de jogo, oprimindo a Juve frágil e com as linhas de quatro sufocadas, que só encontraram alívio e força com a queda dos bávaros na segunda etapa (Tactical Pad).

Bayern de Guardiola manteve postura ofensiva em Turim, com praticamente quatro atacantes e muito volume de jogo, oprimindo a Juve frágil e com as linhas de quatro sufocadas, que só encontraram alívio e força com a queda dos bávaros na segunda etapa (Tactical Pad).

Não diante da Juventus que ganhou consistência no meio com Hernanes e Sturaro, mais força na frente com Dybala, depois Morata. Reação, empate e sensação de ter ganhado uma sobrevida nas oitavas de final.

Na prática, um resultado difícil de reverter na Allianz Arena. Até improvável. Mas pelo nível de exigência quando se trata de Guardiola, um ótimo empate com gols parece derrota, uma ameaça.

Porque se espera muito do melhor técnico de uma era. Também do craque maior, Messi. Ainda assim eles seguem como se competissem apenas com os próprios feitos. O muito, ou quase tudo para os meros mortais parece pouco. O preço da genialidade.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.