Saída de Diego Souza é mais solução que problema no Fluminense
É histórico. No Brasil, a grande maioria dos dirigentes se comporta como Florentino Pérez no Real Madrid: contrata pela grife e pelo currículo e não com a preocupação de encaixar as características do jogador na própria equipe.
A diferença é que o espanhol tem orçamento sobrando para torrar. E mesmo quando pecou ao dispensar Makelele e contratar Beckham em 2003, soube faturar com venda de camisas e popularização da marca do clube. Aqui nem isso.
Antes mesmo da aventura com Ronaldinho Gaúcho no ano passado, o Fluminense dos tempos da Unimed incorreu no erro de reunir nomes sem pensar na montagem do time. Especialmente em 2004, quando tentou encaixar Ramon, Roger Flores, Edmundo e Romário. Não podia dar certo. Neste caso tanto pela maneira de jogar quanto pelos temperamentos.
O retorno de Diego Souza quase onze anos depois se justificava pela volta ao clube de formação e também por conta das boas atuações em 2015 pelo Sport comandado por Eduardo Baptista, então no Flu.
Totalmente compreensível, não fosse a "renovação" de um problema. Mesmo que sem o mesmo impacto.
Nas raras vezes em que Ronaldinho esteve em campo, o Fluminense que chegou a liderar o Brasileiro sob o comando de Enderson Moreira perdeu rapidez e agilidade. Porque formava com Fred uma dupla que pouco ajudava na recomposição ou na pressão na saída de bola, obrigava os meias abertos a recuarem muito e, assim, não tinham referências de velocidade para desafogar nos contragolpes ou em caso de saída de bola apertada.
Diego Souza é mais jovem e dinâmico que Ronaldinho. Por ter começado como volante também colabora mais sem a bola. Na essência, porém, o problema seguia o mesmo. O novo camisa dez e Fred mais adiantados, nas poucas vezes em que estiveram juntos em campo, deixavam o Flu mais vagaroso, menos intenso. Pior: sem Jean, que foi para o Palmeiras, o meio-campo ganhou Cícero para qualificar o passe. Mas é outro que desacelera.
Alegando questões particulares, Diego retornou ao Recife. E Levir Culpi, que dispensou Ronaldinho logo no início do trabalho no Atlético Mineiro em 2014, ganhou uma solução no jogo coletivo.
Não pela vitória nos pênaltis sobre o Internacional no Mané Garrincha que colocou o Fluminense na final da Copa Sul-Minas Rio contra o Atlético Paranaense. Muito pela movimentação e dinâmica na frente com Gérson, Gustavo Scarpa e Osvaldo, este autor dos dois gols. Trio atrás de Magno Alves, substituto de Fred.
Quando o camisa nove retornar, o time pode retomar a combinação de juventude e experiência que deu química nos melhores momentos do ano passado. Cercado de jogadores rápidos, Fred naturalmente se mexe mais, faz pivô. Serve e finaliza. Sem a bola, fica mais adiantado e os companheiros trabalham por ele. No futebol atual só há espaço para um descansar na volta.
Não há discussão de que o Flu perde tecnicamente sem Diego Souza. Atuando mais avançado na vaga de Fred desequilibrou na vitória sobre o Cruzeiro por 4 a 3 com três gols e uma bela assistência para Scarpa.
Mas nem sempre reunir talentos e esperar que eles se arrumem em campo dá liga. O velho exemplo da seleção de 1970, com Zagallo acomodando Piazza na zaga para não sacar Clodoaldo e juntando Jairzinho, Gérson, Pelé, Tostão e Rivellino na frente, é exceção. Há mais casos de insucesso.
Nunca saberemos se o time de Levir Culpi seria mais um. Até porque há mais problemas a resolver – principalmente a lateral esquerda, hoje ocupada pelo improvisado Wellington Silva. O clube deve ir ao mercado antes do Brasileiro. A base também merece atenção. Apaziguar a turbulência política é obrigação.
Se priorizar a montagem de um time competitivo independente de grifes, o Fluminense pode ser forte em 2016.
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