A falácia do "amor à seleção": hoje há mais motivos que antes
Logo após o segundo gol do Paraguai no Defensores Del Chaco começou a pipocar nas redes sociais e principalmente através das vozes "oficiais" o velho discurso de "amor à camisa". Ou a falta dele. Algo recorrente a cada má fase da seleção.
Com a reação e o empate, veio o silêncio. Depois a mudança do foco das críticas para Dunga. Porque definitivamente o problema não é a falta de interesse em servir à camisa verde e amarela. Os que não querem pedem dispensa, os que desejam fazem questão. Principalmente as referências desta geração.
Porque no passado uma convocação servia como barganha para melhorar o salário bem abaixo dos valores atuais. Argumento justo, diga-se. Depois, assim como hoje para os emergentes, virou ponte para uma transferência internacional.
Em 1990, boa parte do grupo que atuava na Europa tapou o patrocinador em foto oficial para a Copa do Mundo da Itália. Amor à camisa? Lição aprendida quatro anos depois com a entrega e o comprometimento que ajudaram a seleção do tetra. De Dunga.
Em 2016, qual o interesse possível de jogadores como, por exemplo, David Luiz, Thiago Silva, Douglas Costa, Willian e Coutinho, que já conseguiram transferências entre clubes europeus, de deixar quem paga suas vultosas remunerações e cede suas estrelas a contragosto para colocar currículo, prestígio e as canelas em risco? Há algum tempo com um abismo conceitual entre o treinador do dia-a-dia e o da seleção. Tudo para dar errado.
E Neymar, jogando no clube desta década e ultramidiático? Que impacto, na prática, teria na carreira se deixasse de servir à seleção? Talvez apenas na Copa do Mundo ele perderia um ou outro patrocinador pontual. Não mais que isso. Sem precisar se expor, quer disputar Copa América e Olimpíadas abrindo mão de férias e início de temporada europeia.
No país que ainda acha que basta adicionar fibra ao talento para fazer a diferença, tudo se resume a correr ou não correr. Raçudo ou mercenário. Machão ou mimado. Coxinha ou Mortadela. Os 7 a 1 não serviram como exemplo clássico do time que começa correndo errado, com setores descoordenados. Depois entra em desespero e por fim se entrega. A análise, em geral, parou no "apagão".
O futebol precisa evoluir. Assim como a mentalidade de quem exige da geração das redes sociais o mesmo comportamento de tempos remotos. O covarde saudosismo, da memória afetiva. Que esquece de vexames da canarinha diante de Chile, Hungria e Dinamarca nos anos 1980 e não recorda da seleção fraquíssima na Copa América de 1991. Inclusive com alguns ex-jogadores hoje comentaristas em campo.
Desde o início do profissionalismo nos anos 1930 o orgulho de servir à pátria pode existir. Mas nunca houve almoço grátis. E se há uma fase em que representar a seleção tangencia o desapego é agora. Só falta vencer para o reconhecimento vir junto e pulverizar a falácia do "amor à amarelinha". Hoje há mais motivos do que antes.
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