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André Rocha

Com histórias diferentes, Bayern e Barcelona abrem vantagem. Mas deveram

André Rocha

05/04/2016 22h29

Diego Simeone surpreendeu com formação ofensiva para o jogo de ida no Camp Nou, com Griezman, Fernando Torres e Carrasco na frente.

No fundo, porém, apenas replicou sistema e estratégia do Real Madrid no sábado: 4-1-4-1 com Gabi entre as linhas de quatro para negar espaços, alternando marcação adiantada e compactando setores à frente da própria área.

Com Messi caindo à direita no início, o Atlético mudou para duas linhas de quatro, com Saul Ñiguez abrindo pela direita e Griezmann adiantado. Mas durou pouco, inexplicavelmente. O argentino voltou a procurar o centro e a equipe de Madri retornou ao sistema inicial.

Com times completos, Atlético de Madri alternou o 4-1-4-1 com duas linhas de quatro e Griezmann na frente, sempre em função de Messi, que iniciou à direita e depois se fixou no meio e facilitou a marcação novamente (Tactical Pad).

Com times completos, Atlético de Madri alternou o 4-1-4-1 com duas linhas de quatro e Griezmann na frente, sempre em função de Messi, que iniciou à direita e depois se fixou no meio e facilitou a marcação novamente (Tactical Pad).

Também começou a sair para o jogo. Trocando passes e aproveitando que o Barca adiantava linhas, mas não fazia pressão no adversário com a bola. Koke teve liberdade para servir Torres aos 25 minutos. Personagem pelo gol e pela tola expulsão dez minutos depois.

O leitor pode questionar o rigor do árbitro Felix Brych na entrada sobre Busquets, mas não a imprudência do atacante na seqüência de faltas. O erro do juiz foi não aplicar o mesmo critério com Busquets, Suárez e outros dos dois times ao longo de um jogo tenso e duro. Mas sem teorias da conspiração.

Depois de muitos protestos, Simeone reagrupou sua equipe num 4-4-1 com Griezmann adiantado. Ou dando o primeiro combate na própria intermediária. A senha para um duelo ataque x defesa de quase sessenta minutos. O "ônibus" colchonero lembrou a Internazionale em 2010 e o Chelsea em 2012.

Mas desta vez havia Luis Suárez. Nem tanto pela atuação – assim como contra o Real, ficou devendo em desempenho. Mas transformou em bolas nas redes de Oblak o domínio de 68% de posse de bola, 19 finalizações contra sete (5 a 2 no alvo).

Fruto da circulação de bola com inversões, toques curtos e jogadas individuais para fazer valer o homem a mais. Desta vez Luis Enrique usou as três substituições: Rafinha Alcântara, Sergi Roberto e Arda Turan formando nova trinca de meio-campistas. Destaque para os laterais Daniel Alves e Jordi Alba, que serviram Suárez nos gols. 45 no mesmo número de jogos na temporada.

Atlético entrincheirado num 4-4-1 tentou conter o Barça que se instalou no campo de ataque com substituições no meio-campo. Virou com Suárez e poderia ter ampliado (Tactical Pad).

Atlético entrincheirado num 4-4-1 tentou conter o Barça que se instalou no campo de ataque com substituições no meio-campo. Virou com Suárez e poderia ter ampliado (Tactical Pad).

Mas ficou a impressão de que era possível aproveitar melhor a vantagem numérica e ferir mais o Atlético que será forte no Vicente Calderón.

Assim como o Benfica também saiu vivo da Allianz Arena. Apesar do gol de Vidal aos dois minutos que parecia o prenúncio de uma goleada histórica, lembrando os 6 a 1 que o rival Porto sofreu na temporada passada.

A diferença foi que o time luso recuou quando foi empurrado pelo volume por vezes sufocante do time alemão, mas nunca se amedrontou ou abdicou de jogar.

Guardiola repetiu o ataque do início contra a Juventus: Douglas Costa à direita e Ribéry pela esquerda. Pontas com pés invertidos, mas tentando abrir o jogo e dar profundidade. Nem sempre conseguiam, até pela tendência de cortar para dentro.

A mudança significativa foi o meio-campo mais leve e intenso com Vidal e Thiago Alcântara articulando e aparecendo como elementos surpresa. No primeiro tempo, muita pressão na perda da bola que atrapalhava a transição ofensiva dos encarnados. Jonas era mais marcador que criador, atrás do centroavante Mitroglou. Nem sinal do goleador da Europa com 30 gols.

Ainda assim, o Benfica cumpriu o "manual" contra os times da posse de bola: pressão nos tiros de meta, nas bolas recuadas para o goleiro e nas cobranças de laterais no campo de defesa para tentar impedir o passe "limpo" de trás. Quando ultrapassado, recompõe em linhas muitos próximas.

Faltou contundência ao Bayern, sobrou disciplina e concentração aos visitantes, que podem reclamar de um toque de braço de Lahm que pela nova orientação às arbitragens poderia ter sido marcado pênalti na primeira etapa.

Bayern com muito volume de jogo, mas sem a contundência de outros jogos; Benfica nunca abdicou do jogo e tentou pressionar na frente sempre que possível, mas Jonas foi mais marcador que atacante na primeira etapa (Tactical Pad).

Bayern com muito volume de jogo, mas sem a contundência de outros jogos; Benfica nunca abdicou do jogo e tentou pressionar na frente sempre que possível, mas Jonas foi mais marcador que atacante na primeira etapa (Tactical Pad).

O Benfica competiu. Com 36% de posse, finalizou dez vezes contra 15. Só uma na direção da meta de Neuer. De Jonas, que o goleiro alemão salvou. Os bávaros mandaram cinco no alvo. Com 89% de acerto nos passes, controlaram o jogo no campo de ataque.

Mas produziu pouco, porque a precisão técnica não foi a de outras jornadas. Na frente entraram Coman e Gotze nas vagas de Douglas Costa e Muller. Atrás, Javi Martinez no lugar de Kimmich para aumentar a estatura da defesa, mas andou se atrapalhando. Também contra Raul Jimenez e Sálvio, a dupla ofensiva que entrou em seguida. Assim como Samaris, que adiantou Sanches – aposta de Rui Vitória para criar no final. Sem sucesso.

Bayern tentou ser mais contundente com as substituições, mas o time português soube conter o volume e não deixou de atacar (Tactical Pad).

Bayern tentou ser mais contundente com as substituições, mas o time português soube conter o volume e não deixou de atacar (Tactical Pad).

Em Lisboa, Jonas fará muita falta. Mas a disputa da vaga na semifinal está em aberto. Com favorito intacto, porém. Assim como em Madri. Mais pelo poder das equipes e a capacidade de propor o jogo em qualquer campo do que pelas vantagens construídas.

As potências mundiais ficaram devendo.

(Estatísticas: UEFA)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.