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André Rocha

Santa Cruz e Milton Mendes campeões! Trocar técnico nem sempre é retrocesso

André Rocha

01/05/2016 21h32

Milton_Mendes_Santa_Cruz

No dia 28 de março, o Santa Cruz anunciava a saída de Marcelo Martelotte, que havia levado o time para a Série A em uma louvável campanha de recuperação. Em 2016, estava garantido no mata-mata da Copa do Nordeste e entre os quatro primeiros no hexagonal final do segundo turno que garantiria a vaga nas semifinais. Triunfo na estreia da Copa do Brasil sobre o Rio Branco, mesmo não evitando o jogo de volta. Resultados aceitáveis, mas desempenho em queda livre. Demissão.

Chegou Milton Mendes. Discurso polido, tentando cativar os jornalistas com educação, cumprimentando e anotando o nome de cada um já na primeira entrevista coletiva. A dúvida era se a postura e o discurso do treinador catarinense de 50 anos, que fez carreira em Portugal, mas com passagens por Catar, Japão e um trabalho que chamou atenção no Atlético Paranaense dariam respostas em campo. E precisava ser rápido por conta da sequência de jogos decisivos.

Dois dias depois, primeiro duelo pelas quartas-de-final do torneio regional contra o Ceará. O interino Adriano Teixeira à beira do campo, Milton assistindo de cima. Intervalo com derrota no Arruda, o novo treinador desceu ao vestiário, tranquilizou os jogadores e auxiliou na substituição. Virada com gols de Keno, o decisivo aos 45 minutos.

Na beira do campo, estreia com vitória e classificação em Fortaleza sobre o mesmo adversário. Na Copa do Brasil, empate sem gols com o Rio Branco confirmando classificação para a segunda fase. No Estadual, novo empate com o Sport, confirmação da presença nas semifinais contra o rival Náutico.

Volta à Copa do Nordeste na semifinal contra o Bahia, algoz do tricolor na fase de grupos com duas vitórias. Empate com gols preocupante em Recife, vitória fantástica em Salvador. Mas Milton foi expulso ao agredir com uma cabeçada um membro da comissão técnica do adversário.  Suspensão. Volta confiante ao Estadual, duas vitórias sobre o Náutico. Santinha na final em Pernambuco.

Decisão da Copa do Nordeste contra o competitivo Campinense de Francisco Diá, do criativo Roger Gaúcho e do artilheiro Rodrigão. De novo definindo fora. Sem Milton Mendes à beira do campo. No Arruda, empate em 1 a 1 até os acréscimos. O técnico através de seus auxiliares fizeram três mexidas. Entraram Leo Moura, Raniel e Bruno Moraes. Jogada dos dois primeiros, gol da vitória do atacante substituto.

Na final, o gol de Rodrigão parecia ser um duro golpe para o fim da invencibilidade de nove jogos de Milton Mendes. Mas Arthur empatou para lembrar que o treinador reconstruiu o Santa Cruz com vocação ofensiva para agrupar o autor do gol, Keno e Grafite na frente. Também capacidade de competir com o meio-campo que ganhou solidez com Uillian Correia. Poder de reação, perseverança.

Desempenho que melhorou o resultado desde o início. Acontece com outras equipes que mais à frente estacionam na evolução. Difícil prever o que o time pernambucano pode fazer na volta à Série A do Brasileiro.

Mas futebol não tem receita de bolo. A troca do comando técnico nem sempre é retrocesso. Precisa ser feita com convicção, na contratação e na dispensa dos serviços. O ideal é que o profissional tenha tempo para implementar seu modelo de jogo. Mas insistir sem notar lastro de evolução é tão equivocado quanto demitir apenas pelo resultado que não vem.

O Santa Cruz arriscou. Milton Mendes chegou combinando gestão de grupo, motivação, mudança de mentalidade e salpicou seus conceitos táticos e estratégicos, mesmo sem tempo para treinar.  Acertou e errou. Mas o saldo é muito positivo em pouco mais de um mês desde a apresentação.

Que seja referência não pelas vitórias e o título do principal torneio do primeiro semestre no país, mas pela capacidade de se adaptar ao contexto e fazer o time jogar e vencer.

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.