Perseguir Osorio é só mais um reflexo do avesso ao novo no nosso futebol
Está mais que provado pela ciência que o ser humano é avesso a mudanças. Tem uma resistência inicial ao novo até que ele esteja assimilado. Por isso as grandes corporações hoje evitam como um fantasma a zona de conforto para nãos serem atropeladas pela concorrência.
É humano ter uma tendência à acomodação. Mesmo que não de trabalho, mas nas ideias, na maneira de ver as coisas. É até uma forma de se sentir seguro neste mundo ter a impressão de que o essencial não muda.
É assim na política, nas artes. A novidade sempre encontra uma barreira. Afinal, ninguém quer perder seu lugar ou ser chamado de ultrapassado.
No futebol não é diferente. O brasileiro tende a respeitar os campeões mundiais, ainda que colocando o país com cinco títulos no topo. E nem todos. Alemanha, Itália, Argentina à frente. E Alemanha nem tanto até 2014 porque era freguês histórica.
Dentro deste cenário, o contexto atual é difícil de aceitar: um catalão e um português dando as ordens e ensinando um novo futebol para o mundo, baseados em princípios da escola holandesa. A Espanha campeã mundial, Bélgica de sua "geração playstation" líder do ranking e a nossa antiga freguesa impõe a maior humilhação da história da nossa seleção, em casa.
Com isso, nossos técnicos viraram alvos fáceis porque são, de fato, também responsáveis pela nossa estagnação. Pelo conforto de arrumar e fechar a casinha e deixar o talento fazer a diferença.
E aí no ano seguinte chega um treinador da Colômbia, um pais ainda tratado como nos anos 1960, de futebol semiamador apesar das conquistas de Libertadores e as boas campanhas em Mundiais, e passa a ser visto como uma referência.
Primeiro o nó na cabeça, depois um ódio estranho de entender. Os mesmos que clamavam para sairmos da mesmice transformaram Juan Carlos Osorio em alvo no São Paulo. Miraram nas canetas nas meias, enquanto ele buscava discutir o jogo neste museu de ideias, fugindo da polêmica vazia. Deveria ser tratado como alguém com água a oferecer no meio do deserto.
Nada. Entrou na roda viva do futebol de resultados e da cobrança covarde: "ganhou o quê?" Vale a reflexão: pensando assim, o que estamos ganhando recentemente?
Foi perseguido, saiu questionado. Durante seu bom início de trabalho na seleção mexicana, o silêncio conveniente esperando o golpe covarde. Veio na madrugada. Primeira derrota. Dura, humilhante. Chile 7 a 0. Nas redes sociais, festa de muitos e um clima de "eu avisei". Quase um alívio com o insucesso daquele forasteiro que ousou nos ensinar o futebol contemporâneo que sequer percebemos a existência e vivemos nos enganando.
Osorio errou e isso você vê no post sobre o jogo neste blog. Mas faz parte de quem tenta fazer diferente porque acredita nessa possibilidade.
O diferente. Novo. Que nos queima as entranhas e embota a visão. Queremos como ideia, mas resistimos na prática. Preferimos tudo como está, ainda que o hoje seja ruim. Ou esperamos por um passado que não volta.
A Bélgica incomoda, assim como Espanha, Guardiola, Mourinho, Osorio e o que vier mais por aí como reflexo de nossa indigência. A má notícia é que sem olhar para o espelho com olhos de ver tudo pode ficar ainda pior.
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