Topo

André Rocha

Marcelo Oliveira resgata o "Galo Doido" na intensidade de Cazares

André Rocha

01/07/2016 08h29

Se o mundo – inclusive o Corinthians de Tite, último campeão brasileiro – busca o controle dos jogos sem abrir mão da intensidade, o Atlético Mineiro parece ter se inserido na nova ordem do planeta bola como o "Galo Doido".

Ou seja, o time que se impõe pela pressão constante, especialmente em casa, e assume todos os riscos. Importa é fazer mais gols que o adversário, ou construir o resultado que interessa. Assim foi na Libertadores em 2013 sob o comando de Cuca. Pagou o preço contra o Raja Casablanca no Mundial.

Autuori, Levir e Aguirre tentaram dar alguma ordem à loucura, mas tantas vezes se beneficiaram do estilo para construir vitórias e o título da Copa do Brasil em 2014.

Chega Marcelo Oliveira, com história no clube como jogador e treinador iniciante. Campeão da Copa do Brasil com o Palmeiras, mas muito questionado pelo jogo de "trocação", sem muitos cuidados com a compactação e a posse para administrar vantagens e apelando demais para as ligações diretas.

Perfeito para resgatar o estilo rápido e insaciável. No ritmo de Juan Cazares, meia equatoriano que pensa correndo. Afastado por Aguirre, ganhou a confiança do novo técnico depois do retorno da Copa América para se entender rapidamente com Clayton, Fred e Robinho no quarteto ofensivo atleticano.

Nos 5 a 3 sobre o Botafogo no Mineirão, dois gols e duas assistências, para Robinho e Fred. Carlos completou a goleada. O camisa onze foi líder em finalizações e posse de bola. Mandou no jogo. Os gols no início de cada tempo – o primeiro aos 12 segundos na ligação direta de Erazo para Leonardo Silva que encontrou Cazares – ajudaram a desmontar o quase sempre organizado time de Ricardo Gomes. Não houve como resistir.

Mas considerando o abismo técnico entre as equipes e o contexto do jogo, mesmo assim o Galo cedeu mais espaços e levou mais sustos que deveria. O time carioca teve 55% de posse, finalizou 19 vezes contra 12 e pode reclamar de um impedimento inexistente de Ribamar e da falta de Carlos César sobre Camilo na origem do segundo gol, de Robinho.

Foi às redes com os substitutos Sassá e Gervásio Nuñez e no final, já em ritmo de treino, com o chute de Bruno Silva que Victor aceitou. Não houve risco real para o Galo, mas o pé cravado no acelerador de Cazares torna o jogo mais aberto, sujeito a surpresas. Funcionou contra Ponte Preta, Corinthians na transição de Tite para Cristóvão, América e Botafogo. Ainda falta um teste mais duro para medir até aonde é possível chegar.

Seja como for, as vitórias afastam o temor do Z4 e abrem caminho para a busca da consistência que pode colocar o Galo na rota do título. O Palmeiras é líder absoluto, mas o rendimento cai muito fora de casa. É o vácuo que outras equipes podem aproveitar.

Por que não o time que mais investiu em nomes de peso na temporada? O Galo do intenso Cazares.

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.