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André Rocha

O empate no Allianz Parque e a falta de um time pronto no Brasil

André Rocha

13/07/2016 08h15

O Palmeiras não tinha a diferença no ataque: Roger Guedes para acelerar, Gabriel Jesus acompanhando na velocidade e decidindo. Mas estava na sua casa, com 100% de aproveitamento no Brasileiro.

Cuca preferiu arriscar Moisés e Tchê Tchê sem as melhores condições físicas no meio à frente de Matheus Sales e buscar a velocidade de Erik e Dudu pelos flancos, Barrios na referência. Cleiton Xavier, o meia do passe diferente, no banco.

Nem a saída de Moisés – vítima da insistência do treinador pela presença no meio e também as cobranças de lateral na área adversária – encorajou o técnico. Entrou Arouca, mesmo sem ritmo de jogo. O camisa dez não apareceu em campo.

Muito pela vantagem construída com a jogada aérea que deu em gol com Mina logo aos seis minutos e definiu a postura da equipe alviverde na partida que nem o empate santista na segunda etapa com Gabriel, em chute desviado no zagueiro Vitor Hugo, alterou.

Apesar de toda rivalidade histórica e recente e da vantagem na tabela, era possível fazer mais e melhor. Propor o jogo, tentar ser protagonista em sua arena lotada. É para isso que serve o alto investimento num elenco recheado. Mesmo também perdendo Mina na primeira etapa por lesão.

Cuca e seus comandados preferiram jogar reagindo ou forçando o erro do oponente na maior parte do tempo. Mais que compreensível pelos quatro meses de trabalho.

Dorival Júnior completou um ano neste retorno ao Santos. Consolidou uma maneira de jogar com mais troca de passes e controle da posse de bola, alternando com velocidade na transição ofensiva com os passes de Lucas Lima procurando Gabriel e Rodrigão, enquanto Ricardo Oliveira não volta.

Teve 62% de posse, contrastando com as 11 finalizações palmeirenses contra nove e os 14 desarmes certos contra apenas seis. Palmeiras mais agressivo, Santos mais posicionado.

Faltou um pouco de coragem para explorar os problemas do rival desde o início. Jonathan Copete, colombiano de início arrasador com dois gols e três assistências, na reserva e Vitor Bueno recuando e compondo com Renato e Thiago Maia sem a bola um trio no meio-campo mais preocupado em não ceder espaços aos rivais. Dorival demorou a trocar.

No Brasil não há um time disposto a ter uma proposta de jogo independentemente do mando de campo ou do contexto da partida. Era jogo para o Palmeiras afirmar a liderança em seus domínios. Para o Santos, valia a presença no G-4 como um real candidato ao título.

Ninguém se arriscou, mesmo com o nítido crescimento santista na segunda etapa que poderia terminar em virada. Porque não há uma equipe pronta no país. Preparada e amadurecida para se impor.

Culpa de Cuca, Dorival ou seus comandados? Lógico que não. O próprio Corinthians, atual campeão, perdeu oito titulares do título de 2015 e agora o técnico Tite. Com todos mantidos para esta edição seria o time a ser batido com seu modelo de jogo consolidado. Segue forte, porém não mais favorito.

O imediatismo, além da moeda mais fraca, faz clube e jogadores se deixarem seduzir por propostas robustas financeiramente e gerar um eterno recomeço. Os técnicos, por total insegurança, pensam apenas no jogo seguinte. Como apostar em ideias se a preocupação de todos é apenas com o placar final e a colocação na tabela?

A alegria de fazer bem feito dentro de uma filosofia é sempre trocada pelo alívio de não conviver com a pressão pela derrota, independentemente do desempenho, até a rodada seguinte. Por aqui a cobrança é inversamente proporcional ao tempo de trabalho. Querem tudo para hoje. Ou ontem.

Por tudo isso, o empate no Allianz Parque pode até frustrar a utopia e o idealismo, mas no pragmatismo dos números foi bom para todos.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.