Cueva e Marcos Júnior: dinâmica contra a "ditadura" do camisa dez clássico
O camisa dez habita o imaginário brasileiro e normalmente é ainda hoje é tratado como a grande solução para o time que não possui um jogador com o perfil típico.
Culpa de Pelé, o maior de todos. Ou Zico, Alex. Hoje Ganso. Outros eram "dez", mas trajavam a oito, como Leivinha no Palmeiras dos anos 1970, deixando o número mítico para Ademir da Guia. Ou Silas, com Pita no São Paulo dos "Menudos" em 1985.
Ou seja, o meia que se aproxima do centroavante para tabelar, criar e finalizar. Uns mais cerebrais, outros com instinto de artilheiro. Mas sempre com uma certa classe, o toque diferente, a visão de jogo privilegiada.
Mas para isso precisava de espaços. Contra a perseguição individual, um drible ou desmarque no volante pegador e abria-se o clarão. Na marcação por zona, o latifúndio às costas do meio-campo adversário dentro de um universo de equipes espaçadas.
Com o jogo mais compacto e rápido, eles tiveram que se adaptar. Uns recuaram, como Pirlo e Toni Kroos. Outros ganharam mobilidade, procurando os flancos: Kaká, Ozil, Oscar, James Rodríguez. Totti, depois Messi, resgataram o "falso nove" de Hidegkuti e Cruyff.
Quem não se atualizou foi sendo excluído naturalmente, também pela idade: Riquelme e Alex, os exemplares mais clássicos. O dez que voltava nos volantes e pensava todo o jogo e ainda aparecia para concluir.
Com espaços mínimos no último terço do campo, o meio-campista pensador passou a ser o outrora destruidor. Como Xabi Alonso e Modric, além do italiano e do alemão citados acima. Armação de trás.
Ficou mais comum escalar um jogador rápido e móvel para atuar atrás do centroavante. Se o time se fecha em duas linhas de quatro bem próximas, o meia central fica um pouco mais liberado. Pressiona a saída de bola e depois fica praticamente como outro atacante. Sendo veloz, o contragolpe ganha um desafogo. Já a movimentação é importante para confundir a retaguarda rival na troca de posições em progressão.
Cueva no São Paulo e Marcos Júnior no Fluminense foram bons exemplos desta dinâmica na 15ª rodada da Série A do Brasileiro.
No clássico em Itaquera, o peruano começou circulando às costas dos volantes corintianos Bruno Henrique e Rodriguinho e procurando os lados. Especialmente o esquerdo, no espaço deixado por Fagner quando apoiava ou saía à caça de Centurión.
Por ali infiltrou e sofreu o pênalti de Yago. Também bateu e converteu. No segundo tempo, colaborou no domínio são-paulino definitivamente aberto pela esquerda. Acertou cinco dribles e foi o jogador que mais ficou com a bola no Majestoso.
Edgardo Bauza reforçou o meio com Wesley e o tricolor paulista aproveitou as substituições infelizes de Cristóvão Borges que tiraram volume de jogo do Corinthians. Faltou pouco para a primeira vitória na arena do rival.
Em Edson Passos, o primeiro jogo da nova casa do Flu depois de penar rodando o Brasil. Primeira etapa de intensidade máxima e muita pressão na saída de bola de um Cruzeiro perdido.
Sem Fred e Gustavo Scarpa, Marcos Júnior voltou de lesão para confirmar o protagonismo na equipe de Levir Culpi. Não como o ponteiro baixinho e velocista, mas com liberdade, deitando e rolando entre a defesa e o meio do adversário.
Os volantes Douglas e Cícero eram os responsáveis pelos passes que furavam as linhas do oponente. Já Marcos Júnior acelerava para se juntar a Richarlison. Ou era o facilitador de outra vantagem de contar com um meia ágil: criar superioridade pelos lados. O meia aberto do 4-2-3-1, mais o lateral e Marcos Júnior triangulando, muitas vezes só contra o lateral adversário.
Assim como Cueva, foi derrubado e mandou para as redes a penalidade máxima que definiu os 2 a 0 ainda no primeiro tempo. Desequilibrou.
Os meias atacantes de velocidade que fizeram São Paulo e Fluminense não sentirem tanta falta de Ganso e Scarpa. Uma alternativa contra a "ditadura" da entidade mágica do camisa dez.
(Estatísticas: Footstats)
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