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André Rocha

Gringos são baratos, suprem carências e leem o jogo. Mas precisam de tempo

André Rocha

22/07/2016 12h39

O fechamento da janela para transferências internacionais apresentou uma busca frenética dos times de Série A no Brasileiro por jogadores sul-americanos.

Donatti, Aquino, Otero, Chávez, Vecchio, Kannemann, Ariel, Nico López, Noguera e Ábila. Quatro atacantes, três zagueiros, três meias. Oito argentinos, um uruguaio, um venezuelano. Ainda a pendência do também argentino Buffarini no São Paulo.

Contratações interessantes porque, mesmo com a desvalorização da moeda, costumam ser mais baratas que buscar no mercado interno ou, pior, repatriar da Europa. Principalmente os atacantes. Duas referências na área adversária, jogadores de, no máximo, dois toques – de preferência, o último: Ariel Nahuelpan (Internacional) e Ábila (Cruzeiro). Andrés Chávez, que chega do Boca Juniors para o São Paulo, procura mais o lado esquerdo na frente.

Nico López, também no Colorado, parece o melhor deles. No Nacional ou na Itália, o uruguaio mostrou versatilidade podendo atuar nas quatro funções do quarteto ofensivo. Enfiado, meia central ou pelos flancos. O mesmo para Buffarini, que pode ser lateral, meia aberto ou volante.

Também suprem  carências, como defensores que saibam atuar na última linha de quatro mais adiantada e sair jogando com bola no chão. Donatti (Flamengo), Kannemann (Grêmio) e Noguera (Santos). Os brasileiros ainda têm o hábito de recuar para "fechar a casinha" e apelar para a ligação direta com medo de errar.

Ou meias criativos. Aquino (Fluminense) e Vecchio (Santos) mais centralizados, o venezuelano Oterno (Atlético Mineiro) mais dinâmico e móvel, como o lesionado Cazares. Neste caso atendendo a demanda desta "entidade mágica" que é o típico camisa dez. Mas podem ser úteis mesmo se não respeitarem as tradições dos meias clássicos sul-americanos.

Porque a principal contribuição destes atletas ao futebol brasileiro é, ou deve ser, a leitura do jogo coletivo. A importância do posicionamento na marcação por zona, da movimentação para dar opções aos companheiros no jogo apoiado, da dedicação sem a bola.

Vale a lembrança do que Fabio Carille, auxiliar técnico do Corinthians, disse ao nosso Dassler Marques sobre o zagueiro Balbuena: "É da escola paraguaia. Conhece muito bem o funcionamento da linha de quatro defensiva e teve um rápido entendimento. Desde que estou aqui, é o zagueiro com quem menos precisei ensinar essa questão. Já veio pronto, em dois ou três treinos já deu para perceber que entendia de toda a organização. Os jogadores paraguaios, uruguaios e argentinos estão à frente nesse aspecto". Leia a reportagem completa AQUI.

Só que nem todos são como Balbuena, nem entram numa equipe estruturada e com um trabalho consolidado dentro dos conceitos atuais. Para estes é preciso artigo raro no futebol brasileiro: tempo. Adaptação ao país, ao idioma, à cultura, à velocidade do jogo. Se forem jogados às feras, sem um mínimo entrosamento, terão que tomar decisões mais na base do improviso e decidir na própria individualidade. A chance de errar e se queimar aumenta.

Eis a incoerência. Contratar pelo que o jogador desempenhou em equipes ajustadas e organizadas e cobrar o mesmo rendimento de forma imediata em uma equipe montada às pressas. No caso dos que chegam ao São Paulo, ainda o perigo de perder Edgardo Bauza para a seleção argentina. Afinal, foi o técnico que indicou os atletas.

Os gringos precisam de método, confiança e, principalmente, paciência. Não há mágica ou acaso.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.