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André Rocha

Talentosos, inteligentes, versáteis. Por que a Europa quer Jesus e Gabigol

André Rocha

29/07/2016 09h23

Jesus e Gabigol

Até Neymar, o futebol brasileiro exportava três tipos de atacante: o extra-classe, ponto fora da curva – Romário, Ronaldo, o meteoro Adriano Imperador, Rivaldo, Ronaldinho e a própria estrela solitária, camisa onze do Barcelona.

Também os jogadores rápidos pelos flancos, mas com algumas deficiências nas tomadas de decisão e nas finalizações. Como Lucas Moura, por exemplo. Ou o centroavante fazedor de gols, mas nem tão participativo no trabalho coletivo. Como Fred.

Gabriel Jesus e o seu xará do Santos, o Barbosa ou Gabigol, não mostram hoje o talento que saltava aos olhos e encantava quando Neymar, com os mesmos 19 anos, decidia uma Libertadores para o Santos em 2011, marcava gols antológicos como o sobre o Flamengo que rendeu o Prêmio Puskas e já era a referência na seleção.

A dupla de jovens avantes atrai a atenção de grandes equipes como Manchester City (leia-se Guardiola), Real Madrid, Bayern de Munique, Manchester United, Barcelona e Juventus. Pelo potencial, mas principalmente por conta das características parecidas com as de Neymar e que se encaixam no que se espera de um atacante nos principais centros europeus.

Jesus e Gabigol fazem gols, mas não são típicos centroavantes. Até atuam nessa função mais centralizada. O primeiro no Palmeiras de hoje, comandado por Cuca. O outro em 2014, com 17 anos, no Santos de Oswaldo Oliveira antes da chegada de Leandro Damião. Depois Ricardo Oliveira.

Mas também jogam circulando pelos flancos, sabem abrir espaços, procurar as diagonais. Lidam bem com lançamentos às costas das defesas adversárias. Sabem sair do jogo de contato, mais físico dos zagueiros. Aparecem na área para finalizar, não ficam nela facilitando a marcação. Guardiola gosta disso.

São inteligentes, no posicionamento e na movimentação. E se os treinadores precisarem da colaboração pelos lados auxiliando numa recomposição, fechando uma segunda linha de quatro, eles executam sem problemas. Como diria Tite, são atletas que suportam transições mais longas. Estão atentos ao jogo coletivo. Versatilidade e capacidade de adaptação. Não têm lampejos geniais, mas podem ser talentos mais constantes.

Sem contar a força mental, já que são tratados, antes de chegarem aos vinte anos, como protagonistas em grandes clubes. Com toda a responsabilidade que vem a reboque da superexposição de astros precoces. Cobrados como prontos.

Rogério Micale tem na seleção olímpica um trio de ataque móvel e inteligente. Gabriel pela direita, Jesus centralizado e Neymar pela esquerda. Mas se procurando o tempo todo para tabelas e deslocamentos em progressão.

O treinador só precisa manter os dois garotos focados, sem deixar a cabeça viajar para os campos europeus. Aqueles que eles só viam na TV e no videogame. Neymar, mais vivido, pode ajudar a mostrar o caminho.

Pés cravados no chão para voarem na hora certa.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.