Brasil olímpico joga futebol atual, mas terá armadilhas pelo caminho
Amistosos servem para dos tipos de observação: a coletiva com a formação que costuma ser mais próxima da ideal no primeiro tempo e a individual, analisando o comportamento de quem entra depois do intervalo, independentemente do desentrosamento.
Os 2 a 0 sobre a fraquíssima seleção japonesa em 45 minutos serviram para mostrar um pouco na prática o que a seleção olímpica de Rogério Micale trabalhou na Granja Comary.
Linhas avançadas e compactas, pressão sobre o adversário imediatamente depois da perda da bola, trocas de passes, movimentação no "caos organizado", valorização da técnica em todo o campo e do improviso e do talento no último terço, na zona de decisão. Como na arrancada de Gabriel Barbosa, o Gabigol, no primeiro tento.
Também a bola parada que achou Marquinhos no segundo. Zagueiro que saía com passe certo, iniciando com Rodrigo Caio a construção, passando pelos meio-campistas Thiago Maia, Rafinha e Felipe Anderson e buscando a linha de fundo com os laterais Zeca, depois William, e Douglas Santos. Trabalho coletivo. Futebol atual. Foi bonito de ver o ensaio em 45 minutos.
É óbvio que faltou entrosamento, especialmente de Neymar, que atuou os noventa minutos. O Brasil precisa de mais de seu capitão e referência técnica. No segundo tempo, Renato Augusto tentou recuperar o tempo perdido na preparação e organizar mais de trás. Luan se mexeu e acelerou. Walace, Rodrigo Dourado e o zagueiro Luan também entraram, mas faltou a fluência.
Sobrou o calor, que pode ser uma das armadilhas contra a ideia do jogo de Micale. Não é fácil colocar intensidade, mobilidade e pressão durante a maior parte do tempo com as altas temperaturas, mesmo no inverno. No Serra Dourada, o ar seco pra piorar. Em outras cidades a umidade pode ser mais prejudicial.
Tão preocupante quanto o peso do favoritismo, que aumenta a tensão. O clima de "agora ou nunca" por ser o anfitrião e o ineditismo da conquista, amplificados por torcida e imprensa, precisa ser trabalhado na medida certa. Cobrança natural que se transforma em motivação. E concentração na disputa, na execução do plano de jogo que apresenta riscos, como qualquer outra.
Defesa adiantada requer atenção na maior parte do tempo e a posse de bola para se proteger. Um passe errado, um vacilo que abra espaços entre os setores e o oponente tem o contragolpe à feição. Dada a fragilidade dos rivais por conta da dificuldade da liberação dos atletas, a grande maioria enfrentará o Brasil jogando por uma transição ofensiva em velocidade de forma efetiva.
Por isso presença de um treinador com conteúdo ajuda a manter o foco. No entanto, também pode se transformar em um problema. Porque é nítido o incômodo das figuras de sempre com um técnico novato adepto de um discurso que foge da "família", do "grupo unido", do "nós contra eles da imprensa".
Uma atuação inconsistente pode despertar os que estão sedentos para questionar o técnico que "não treinou nenhum time grande", o "Zé Ninguém" e preferem a grife com perfil boleiro, de discurso quase sempre pobre e populista. Mas conveniente.
Se grupo e técnico são pouco rodados em competições internacionais de seleções, o melhor a fazer é focar no campo. Adaptar a proposta, aprimorar. Fazer o trio ofensivo se procurar pelo centro, mas sem deixar de abrir o jogo para esgarçar a marcação. Ter volume, mas também criar e definir.
De preferência na primeira etapa, para não despertar velhos fantasmas. Ou resgatar as armadilhas no caminho do objeto de desejo: a medalha dourada.
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