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André Rocha

E o Galo chegou...com Fred, Robinho e Pratto! O futebol é generoso

André Rocha

05/08/2016 10h43

Trabalhar com futebol é apaixonante. Mas às vezes transfere uma certa angústia. Porque somos convocados a opinar sobre o mais subjetivo e imprevisível dos esportes. Não por acaso o mais popular.

O grande embate entre torcedor e jornalista é porque normalmente o apaixonado espera que o profissional avalize a sua visão emocional: se vence ou é campeão não há defeitos ou ressalvas; se o resultado não vem é crise, tudo está errado ou há uma grande conspiração contra o seu time de coração e é obrigação denunciar, mesmo sem provas.

E nós penamos porque mesmo que a intuição nos sugira que algo pode dar muito certo ou ser um retumbante fracasso é dever de ofício tentar racionalizar, buscar indícios, dados que embasem a opinião. Não pode ser "porque sim".

Mas muitas vezes é "porque sim". Sim, o Atlético Mineiro que frequentou a zona de rebaixamento reagiu e está a um ponto da liderança. Você leu AQUI que seria muito difícil o time de Marcelo Oliveira funcionar com Robinho, Fred e Lucas Pratto juntos.

Porque o técnico vinha de um trabalho ruim no Palmeiras em desempenho, apesar do título da Copa do Brasil. Time muito espaçado, abusando das ligações diretas e do jogo aéreo. Bola batendo e voltando, defesa exposta. Problemas que se repetiram no início da campanha em seu retorno a Belo Horizonte.

Além disso, o trio de atacantes veteranos parecia uma solução que tiraria velocidade e intensidade na frente, características marcantes nas temporadas vencedoras dos últimos anos. Era improvável que desse certo, ate porque parecia mais que provável uma transferência do argentino para o futebol chinês.

Não foi e vem funcionando. Porque se Marcelo Oliveira é de uma escola menos atual do futebol, mais fiel ao estilo de Telê Santana que antenado aos movimentos de Pep Guardiola, seu jeito tranquilo e agregador conseguiu o que tantas vezes é mais importante que os conceitos do jogo: a capacidade de convencer seus comandados.

Nos 2 a 1 sobre o São Paulo no Morumbi, não foi raro ver Robinho voltando pela esquerda para fechar a linha de quatro na execução do 4-2-3-1. Mas a dupla na frente também ajudou, na pressão e na recomposição. Fred mais adiantado e fixo, Pratto tentando compensar a ausência de Cazares.

Solidariedade. Todos se entregando para não sobrecarregar ninguém. Embalados por um clima nitidamente leve e amistoso. Sem vaidades, com sorrisos. Coisas simples, esquecidas nas análises. Mas fundamentais em qualquer ambiente.

Na transição ofensiva, rapidez e belos lances que já tinham encantado nos 3 a 0 sobre o Santa Cruz. Porque os três estão voando – mérito da estrutura do clube na Cidade do Galo e da sequência menos desgastante de jogos. O técnico conta ainda com a mesma dedicação de Maicosuel, autor do gol de empate antes de Pratto decretar a virada.

Com 60 minutos veio o desgaste natural e Marcelo trocou três peças. Deixou Pratto na frente, reoxigenou  com velocidade. Ainda mais com o retorno de Luan. Também a estreia do venezuelano Otero, que precisa se adaptar ao futebol brasileiro.

Vantagem de contar com elenco numeroso e qualificado. Melhor ainda é dispor de Victor em noite inspirada que segurou a pressão são-paulina na segunda etapa. Ainda o problema de não controlar o jogo, mesmo com um volante que dita ritmo e erra poucos passes como Rafael Carioca. Apenas 37% de posse e 37 bolas rebatidas.

Mas venceu e encostou de vez. O Galo pode ser líder já na próxima rodada, a última do returno. Com Robinho, Fred e Pratto. Competindo e dando espetáculo. Porque, como diz Paulo Autuori, "o futebol é generoso". Não há fórmula ou receita. Só as tendências nas quais nos agarramos para tatear a razão.

Às vezes acertamos. Mas tolo é quem sonha com a utopia das regras e limites neste esporte que arrebata porque surpreende. Cativa porque não há verdades. Melhor assim.

No 4-2-3-1 do Galo de Marcelo Oliveira, Robinho, Fred, Pratto e Maicosuel formam um quarteto ofensivo que se movimenta e colabora sem a bola para que ninguém fique sobrecarregado. Parecia improvável, mas funciona (Tactical Pad).

No 4-2-3-1 do Galo de Marcelo Oliveira, Robinho, Fred, Pratto e Maicosuel formam um quarteto ofensivo que se movimenta e colabora sem a bola para que ninguém fique sobrecarregado. Parecia improvável, mas funciona (Tactical Pad).

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.