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André Rocha

Por que o Flamengo com peças e técnico contestados dorme na liderança

André Rocha

06/08/2016 21h15

Os primeiros vinte minutos do segundo tempo em Cariacica foram os melhores do Flamengo no Brasileiro. Organização, intensidade, volume de jogo. Quinze até a boa jogada de Fernandinho e o toque de letra de Mancuello que venceu o goleiro Santos, mais cinco mantendo a pressão e tentando o segundo com o Atlético Paranaense ainda zonzo.

Sim, o time de Paulo Autuori que tirou a liderança do Corinthians na rodada anterior. Equipe bem coordenada, com duas linhas de quatro compactas sem a bola e os volantes Otávio e Hernani saindo para o jogo. Que reagiu, avançou as linhas e empurrou o oponente para o próprio campo.

Mas foi engolida da volta do intervalo até sofrer o gol único do jogo. Pelo Fla de Zé Ricardo. De Pará, Rafael Vaz, Chiquinho, Márcio Araújo, Fernandinho e Everton. Todos contestados ou até execrados mais ou menos em algum momento da temporada. Ou há mais tempo.

Em campo, uma base questionável sob o comando de um técnico novato. Como consegue ser sólido taticamente em quase todos os jogos e dorme na liderança do Brasileiro?

A resposta é simples: jogo coletivo. Não há um grande craque, mas todos sabem o que fazer em campo. Quem está com a bola tem opções de passe porque os companheiros se deslocam. Os toques são simples, a circulação da bola é paciente e só sai em profundidade se houver espaços às costas da defesa adversária.

Por isso Zé Ricardo insiste com velocistas pelas pontas, mesmo que eles tantas vezes se atrapalhem na tomada de decisão quando conseguem chegar ao fundo ou em condições de finalizar. Porque combinam as características com os passadores William Arão e Mancuello ou Alan Patrick e o móvel e técnico Paolo Guerrero. Mantém a intensidade.

Na recomposição, o time alterna pressão no campo de ataque e linhas compactas guardando a meta de Muralha, muitas vezes num 4-1-4-1. Com Márcio Araújo, que joga e deixa Cuéllar no banco para desespero de muitos torcedores. Qual a vantagem do brasileiro sobre o colombiano na visão do treinador? Leitura de jogo e noção da função que exerce. Repare: sempre que Cuéllar entra muito bem é jogando mais adiantado.

O Flamengo cercado de incertezas e desconfianças, que ainda prepara a estreia de Diego se consolida como um dos candidatos ao título numa disputa de raro equilíbrio e muitos postulantes. Está no bolo. Oscila como todos, não desperta confiança. Mas compete, até quando é goleado, como nos 4 a 0 para o Corinthians em Itaquera.

Méritos de Zé Ricardo. Na primeira experiência no time principal, dando confiança a tantos renegados. E o principal: fazendo seus comandados jogarem futebol atual. Porque o coletivo bem pensado e treinado faz com que o time dependa menos das individualidades e, paradoxalmente, transfira confiança para que se arrisque a jogada pessoal na zona de decisão.

Ainda não cheira a título, mas já é forte e pode evoluir para lutar até o fim.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.