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André Rocha

A "estreia" do Brasil do passe facilitou o espetáculo em Salvador

André Rocha

11/08/2016 00h07

Dirão que a mudança foi anímica. "Mais raça". Ou de casa, com o calor de Salvador. Podem também colocar na conta das mudanças de Rogério Micale: os gremistas Walace e Luan que, de fato, alteraram a dinâmica ofensiva. Ou tirar os méritos do jovem técnico e creditar ao papo com Tite antes do jogo.

Mas a grande transformação mesmo na seleção olímpica nos 4 a 0 sobre a Dinamarca foi na execução inteligente do modelo de jogo. Menos bolas longas e jogadas individuais, mais passes e deslocamentos. Menos pressa. Mesmo na pressão psicológica até abrir o placar e ir às redes depois de 105 minutos.

Ajudou muito o posicionamento de Neymar, centralizado e alternando com Luan às costas dos volantes adversários e procurando Gabriel à direita e Jesus pela esquerda, que sempre buscavam as diagonais.

Colaborou também a atuação soberba de Renato Augusto, em perfeita sintonia com Walace, outro monstro em campo. Camisa cinco distribuindo e liderando. Sem procurar o lado direito e fazendo Zeca centralizar como no empate contra o Iraque. Laterais aproveitando os corredores.

Especialmente Douglas Santos, autor de duas assistências em aparições pela esquerda, para Gabriel e Luan. Jesus começou tenso, errou a passada e o pé numa finalização à frente do goleiro Hojbjerg. Mas tocou bonito para concluir bela jogada de Zeca e Luan à direita. No final recebeu bela enfiada de Neymar e serviu Gabriel no quarto gol.

Um espetáculo do "caos organizado" que Micale idealizou. Sim, facilitado pela baixa intensidade dos dinamarqueses. Sem pressão no homem da bola e atenção no posicionamento, escancarando espaços entre as linhas em qualquer tabela ou ultrapassagem. Também o estado do gramado, bem melhor que no Mané Garrincha.

Mas com o mérito brasileiro de priorizar o passe. Contra a África do Sul na estreia, 540 certos e 42 errados. Diante do Iraque, 505 corretos e 36 equivocados. Desta vez foram 686 acertos, apenas 29 erros. Os números não dizem tudo sempre, mas estes são emblemáticos.

Retrato do jogo coletivo que fez todos brilharem. Próxima missão: Colômbia, quartas-de-final. Arena Corinthians, sábado. Disputa eliminatória. É dever manter a calma e o foco no campo como na "estreia" na Fonte Nova.

(Estatísticas: Footstats)

Com Neymar centralizado, Gabriel Jesus pela esquerda, laterais aproveitando os corredores e Renato Augusto liderando a posse de bola. O jogo coletivo baseado no passe que envolveu a Dinamarca em Salvador (Tactical Pad).

Com Neymar centralizado, Gabriel Jesus pela esquerda, laterais aproveitando os corredores e Renato Augusto liderando a posse de bola. O jogo coletivo baseado no passe que envolveu a Dinamarca em Salvador (Tactical Pad).

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.