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André Rocha

Uma tarde de gala no Maracanã

André Rocha

17/08/2016 14h52

Este que escreve nasceu em 1973. Começou a entender algo de futebol em 1980. Carioca, adepto na juventude da famosa canção de Bebeto: "Praia e sol, Maracanã, futebol. Domingo".

Hoje é quarta-feira. Mas o blogueiro que viveu muitas tardes de paixão pelo futebol no maior dos templos, antes das muitas reformas, se permite no meio das agruras da vida adulta uma análise com leveza. Para a alma respirar.

Sim, era Honduras. Claro, o gol de Neymar aos 15 segundos, o mais rápido da história dos Jogos Olímpicos, desmontou o 5-4-1 baseado em posicionamento perfeito da última linha de defesa que o técnico Jorge Luis Pinto armou com sucesso na Costa da Rica da Copa do Mundo há dois anos.

Mas o que se viu depois foi espetáculo. De fibra, entrega, talento. Jogo coletivo potencializando a qualidade técnica. Exibição que a seleção, principal ou olímpica, negou diante de equipes mais frágeis tantas vezes.

Por isso o analista, sem pensar no ontem ou no amanhã, pede licença para um instante de encantamento com o presente para lembrar dos olhos brilhando do menino de dez anos. Que passava a semana pensando no jogo e não nas contas para pagar.

(Se você é pragmático, está magoado com a seleção – com toda razão – ou acha que elogiar o time é aceitar os muitos erros da CBF…melhor parar a leitura por aqui e não seguir viagem)

Neymar deitou e rolou jogando como autêntico camisa dez. Parecia Zico. Moderno na pressão sobre Palacios no gol que facilitou tudo. Armador à moda antiga circulando às costas dos volantes ou buscando a bola para pensar o jogo e escondê-la dos oponentes. Até cobrador de faltas. Fechou a conta com um gol de pênalti.

Gabriel Jesus fez duas diagonais partindo da esquerda que lembraram as de Romário. Não o consagrado, Bola de Ouro e campeão mundial em 1994. O do início da carreira, ou até na base do Vasco. Nas preliminares do Maracanã. Com os 19 anos de Jesus.

Três a zero em 45 minutos. Só oito passes errados em 64% de posse. Oito finalizações, a metade no alvo. Só uma não foi nas redes de Lopez. Números que são apenas detalhes diante da atmosfera no estádio, o clima de comunhão com a torcida.

Brasileiro que valoriza a vitória, mas se for com espetáculo, com a proposta de fazer bem e bonito o convite para viver um momento agradável é irresistível.

Talvez não dê em ouro. E o clima de revanche numa possível final contra a Alemanha não vai ajudar em nada. Até porque vingança só com goleada numa semifinal de Copa do Mundo na casa deles.

Então, se remoer o passado é tão inútil quanto a ansiedade em relação ao futuro, vale o hoje. Seis a zero que ainda teve gols de Marquinhos e Luan. Outros destaques no torneio.

Tudo com um misto de nostalgia e fé no amanhã de uma tarde de gala no Maracanã.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.