O São Paulo precisa sair de 2008
Em dezembro de 2008, o São Paulo era o tricampeão brasileiro, seis títulos no total, e a pergunta do futebol no país era se teríamos a nossa versão do Lyon de Juninho Pernambucano, então heptacampeão francês.
O tricolor paulista ostentava a fórmula do sucesso: o maior estádio particular do Brasil, estrutura com o CT da Barra Funda, o REFFIS e as divisões de base em Cotia. Bom pagador num cenário de dívidas astronômicas, atraía os melhores profissionais e procurava mantê-los o quanto fosse possível.
A meta em janeiro de 2009 era voltar a vencer a Libertadores e havia o projeto megalomaníaco de se tornar a maior torcida do Brasil no vácuo de conquistas dos rivais.
Só que o básico de qualquer gestão é aprimorar e atualizar seus processos e, principalmente, observar com atenção os movimentos da concorrência. O São Paulo errou ao se acomodar e menosprezar as iniciativas ao redor.
Como o Corinthians com Andrés Sanchez e Ronaldo construindo uma imagem de clube organizado, investidor ao gerar novas receitas, com estrutura e projeto de estádio próprio.
O Palmeiras também investindo em sua arena e, mais tarde, com um presidente/mecenas colocando recursos no futebol, mas buscando ser autossustentável com seus sócios-torcedores – assim como o Corinthians. E o Santos, com o raio caindo mais uma vez na Vila Belmiro com Neymar e uma geração vitoriosa.
Juvenal Juvêncio debochava com seu estilo particularíssimo e o São Paulo seguia com sua filosofia. Algo positivo como uma linha mestra, mas vivendo o presente e seus caminhos surpreendentes, ainda mais no futebol.
Quando as conquistas rarearam, as pautas mudaram: acusações de corrupção, caça às bruxas, mudanças constantes nos profissionais. Alguns espasmos, como o título da Sul-Americana em 2012 e a campanha sólida no Brasileiro de 2014. Mas a gestão já estava longe de ser a referência de outrora.
Porque se acomodou e passou a olhar para trás, buscando o que havia no sucesso de antes que não se repetia no presente. Prática comum, mas quase sempre contraproducente. E se tudo parecia igual a 2006-2008, seja com Muricy ou a volta de Lugano em 2016, a saída é voltar ainda mais, para a Era Telê Santana. Algo ainda mais datado. Como o ultrapassado 3-5-2 que ainda habita o imaginário do torcedor, mas com execução que já foi atualizada pela Juventus e seleção italiana há algum tempo.
Sim, o São Paulo perdeu duas boas oportunidades de se estabelecer a médio/longo prazo com as saídas de Osório e Bauza para as seleções mexicana e argentina, respectivamente. Fatores externos. Mas o clube não parece pronto para uma nova fase de conquistas.
Também porque não surge um novo nome, de fora da cúpula que comanda o clube há décadas. Nada mais sintomático do continuísmo que a eterna (e chata) discussão sobre a Copa União de 1987 e a Taça de Bolinhas disputada com o Flamengo encontrar em 2015 no São Paulo o mesmo presidente de quase três décadas atrás: Carlos Miguel Aidar, que fez seu sucessor Juvenal Juvêncio e depois inimigo.
Uma guerra que jogou o clube numa antes inimaginável crise financeira. Segundo relatório elaborado por Amir Somoggi, especialista em marketing e gestão esportiva, o São Paulo aumentou sua dívida para 360 milhões em 2015. Mesmo acompanhando o aumento das receitas dos grandes clubes do país. Só que o Morumbi, que só lota em decisões, Libertadores ou preços promocionais, agora não sedia mais os clássicos dos rivais e tem concorrência nos grandes eventos que enchiam os cofres.
Retrato de um São Paulo que tenta se reerguer com Leco e Ricardo Gomes, contratado pelo bom trabalho no Botafogo que atraiu a atenção do Cruzeiro em maio. Mas também pela passagem em 2009. Assim como Autuori foi sondado, pelo que fez em 2005 mas esquecendo a campanha pífia, de rebaixado em 2013.
De novo o passado. Enquanto o hoje exige atenção. A obsessão pela Libertadores tirou novamente as chances de título no Brasileiro e a Copa do Brasil, aventada como uma possibilidade de conquista (inédita), se complica pela derrota no Morumbi para o Juventude – campeão do torneio em 1999, mas disputando a Série C.
O que será preciso para despertar? Um rebaixamento como o Corinthians em 2007? Ou dois, como o rival alviverde? O futebol mudou muito, dentro e fora de campo. Já passou da hora de deixar 2008, Rogério Ceni e uma era vitoriosa para os livros e museus e seguir adiante. Respeitando a história, mas com novas ideias e ideais.
Como o Lyon, que nas últimas oito temporadas só venceu uma Copa da França e uma Supercopa do país em 2012. Mesmo ano do último título são-paulino. Não pode ser só coincidência.
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