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André Rocha

Com nove meses de atraso, Vasco está em depressão

André Rocha

03/09/2016 18h58

O rebaixamento para um clube grande é sinônimo de depressão. Tem que ser. Mesmo para quem enfrenta o drama pela terceira vez em oito anos, como o Vasco.

Tristeza, lamber as feridas, avaliar os erros e encarar como uma oportunidade de se reorganizar, trazer a torcida para perto e tratar a temporada seguinte como um desafio e uma oportunidade de reinvenção.

O time cruzmaltino não viveu nada disso no final de 2015. Nem tanto pelo descenso não ser inédito. Até porque era a primeira vez do presidente Eurico Miranda, que garantiu que com ele o clube nunca cairia quando criticava o sucessor/antecessor Roberto Dinamite.

A questão é que o Vasco viveu uma situação inusitada. De lanterna no turno da Série A, terminou a competição com a oitava melhor campanha do returno. O Corinthians foi campeão em São Januário, mas com um empate sofrido. Com Jorginho, o time fazia jogos equilibrados contra qualquer um. Faltou bem pouco para se salvar. Talvez um ou dois erros de arbitragem a menos.

Eurico manteve o técnico e a base do elenco, especialmente o craque do time, Nenê. Criou-se um clima de esperança, até pela importância que a gestão do clube e boa parte da torcida dá ao estadual.

O título carioca com vitórias sobre o arquirrival Flamengo deixou equipe e torcida eufóricos. Alegria que seguiu com o ótimo início na Série B, a manutenção de Jorginho com a negativa à proposta do Cruzeiro, a série invicta de jogos e a possibilidade de fazer campanha histórica.

Mas o time com média de idade acima dos 30 anos foi sentindo o desgaste das viagens. A invencibilidade de 34 acabou contra o Atlético Goianiense e com ela a esperança de igualar marca histórica: 35 jogos sem derrota entre 1945 e 1946. A perspectiva de superar o Corinthians de 2008, com 25 vitórias e 74% de aproveitamento também foi para o espaço com o time irregular, em resultados e desempenho.

O Vasco que trocava passes, iniciava os ataques com Andrezinho e encontrava Nenê, liberado para atacar na variação do 4-3-1-2 para o 4-4-1-1 quando Jorge Henrique recua pela esquerda, perdeu a referência de velocidade na frente: Riascos, atacante colombiano limitadíssimo tecnicamente, mas cujas características se encaixavam perfeitamente com a proposta de jogo de Jorginho.

O clube foi ao mercado e trouxe Ederson. Também Junior Dutra e Rafael Marques. Aproveitou alguns jovens da base – Douglas Luiz o último. Para rodar o elenco, descansar um pouco os jogadores fundamentais.

Não conseguiu, mas ainda assim a disparidade técnica permite ao time seguir na liderança da segunda divisão. A última esperança: Copa do Brasil. O gol de Eder Luis transferiu uma sobrevida, mas o Vasco sabe que a missão contra o Santos depois dos 3 a 1 na Vila Belmiro é das mais complicadas. Quase impossível.

Porque a depressão chegou para o Vasco, com nove meses de atraso. O único objetivo palpável que restou é a obrigação do ano. Não há mais Carioca, duelos contra o Fla, marcas a alcançar. Só o duro cotidiano da Série B.

Jorginho tem responsabilidade por não encontrar alternativa quando Andrezinho e Nenê são marcados e a equipe simplesmente trava. A derrota para o Bahia em Salvador por 1 a 0 foi a segunda consecutiva depois do revés para o Vila Nova em São Januário. O quinto jogo sem vitória na Série B, seis no total incluindo a Copa do Brasil.

No primeiro tempo na Fonte Nova, uma atuação pluripatética. O Vasco trocava bolas na própria intermediária e parava no organizado sistema defensivo armado por Guto Ferreira. A primeira finalização só no segundo tempo, no belo chute de Jorge Henrique que Muriel salvou.

No mais, bolas paradas, nenhum jogo associativo, tudo dependendo das individualidades. Um time perdido, lento, sem ideias. Abatido. Mas ainda líder. Talvez seja o que desanime: não ter um rival à altura.

Só uma remontada histórica do "time da virada" contra o Santos para sair deste quarto escuro. Da letargia de quem torce para o ano acabar, ainda em setembro. Da depressão por despertar em um lugar que não é mais novidade. Mas continua incômodo.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.