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André Rocha

O empate entre o time e o talento

André Rocha

15/09/2016 00h05

Desde o primeiro toque na bola no Allianz Parque houve um time na acepção da palavra no gramado cheio de falhas em um fantástico estádio.

O Flamengo evitou o "abafa" inicial do Palmeiras…atacando. Troca de passes, bola circulando sempre para sair da zona de pressão e jogadores muito bem distribuídos em campo. Principalmente depois de recuar e compactar as linhas com precisão na execução do 4-2-3-1.

O Palmeiras ficava com a bola, rondava a área, mas a jogada quase invariavelmente terminava no cruzamento sem grandes objetivos. Um time sem ideias, vertical demais. Apressado. Até descobrir sem querer o "mapa da mina": Márcio Araújo. Difícil entender um jogador experiente pilhado de forma errada. Das oito faltas cometidas pelo Fla no primeiro tempo, a metade foi do volante.

É possível questionar cada infração isoladamente e o cartão vermelho aplicado pelo fraquíssimo árbitro Andre Luiz de Freitas. Mas não a imprudência do jogador rubro-negro e a falta de sensibilidade do novato Zé Ricardo, que devia ter feito a substituição na falta em que podia ter sido expulso um pouco antes.

O técnico compensou na segunda etapa com uma atuação que beirou a perfeição em termos de posicionamento do 4-4-1 com a entrada de Cuéllar no lugar de Diego. Damião seguiu em campo para lutar na frente e voltar para defender as jogadas aéreas do rival.

O Palmeiras avançou de forma suicida com Barrios na vaga de Gabriel. Foi surpreendido pela troca de Gabriel por Alan Patrick, que infiltrou pela direita e Zé Roberto não percebeu. Um gol improvável que foi a senha para um domínio do Fla nos minutos seguintes, conseguindo coordenar contragolpes e tendo a chance de definir o clássico nacional.

Entrou Cirino. O Flamengo seguiu organizado, mas perdeu qualidade na frente. Também porque Damião, de atuação heroica, cansou. Os donos da casa avançaram com Cleiton Xavier e Rafael Marques e despejaram bolas na área – 34 cruzamentos no total. Estariam insistindo até agora, sem grande resultado prático.

O empate veio no talento. De Gabriel Jesus. De praticamente vetado a salvador de sua equipe. É cada vez mais impressionante e paradoxal que o Palmeiras de Alexandre Mattos e suas contratações a dezenas dependa tanto de sua prata da casa. Ou ouro – olímpico!

O líder segue o mesmo, mas o Flamengo volta de São Paulo deixando a forte impressão de que é o melhor time do campeonato. Equipe, jogo coletivo. Pode virar líder no fim de semana – pega o Figueirense enquanto o Palmeiras vai para o clássico em Itaquera contra o Corinthians. Sem Gabriel Jesus, suspenso.

A menos que na sequência o talento de seu único craque salve Cuca e os palestrinos de novo. E de novo. Até partir para Manchester no final do ano entregar seu futebol de exceção no Brasil a Guardiola.

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.