Precisamos falar sobre a Chapecoense, um exemplo de consciência
No dia 24 de junho deste ano, o chão tremeu em Chapecó com a saída do técnico Guto Ferreira para o Bahia. O profissional optou pela melhor proposta financeira e, óbvio, pela maior visibilidade num clube bicampeão brasileiro. Ajudava a explicar a incoerência de abandonar um trabalho consolidado na Série A para colocar o currículo em jogo numa campanha de recuperação na segunda divisão.
No dia seguinte, este que escreve teve a oportunidade de, junto com o colega Giovani Martinello no Esporte Interativo, entrevistar Mauro Stumpf, vice de futebol do time catarinense. No meio de uma crise grave, que poderia colocar em risco a temporada e todo um planejamento, chamou a atenção a serenidade de encarar o processo com naturalidade, Sem vitimização ou culpar Guto. Nem planos mirabolantes.
Aproveitou para anunciar Caio Júnior como substituto, de volta ao Brasil após dois anos no Al-Shabab. Também confirmou a impressão de que a ideia era encaixar na engrenagem um treinador com perfil semelhante e que tivesse a humildade de se inserir nos processos sem tentar colocar sua assinatura e desvirtuar o planejamento para 2016. O novo técnico já havia provado no Flamengo em 2008, sucedendo Joel Santana, ao não se incomodar em manter uma estrutura consolidada.
Mauro também afirmou que a meta continuava sendo a manutenção na Série A e tentar superar as campanhas de 2014 (15º) e 2015 (14º). Para confirmar a evolução e o aprendizado de atuar entre os grandes. Com gestão financeira responsável e cuidado com o clube.
Quase três meses depois, a Chapecoense chega à nona colocação do campeonato com uma vitória emblemática: 2 a 1 sobre o Fluminense. De virada. Em Edson Passos, casa da recuperação do time carioca no Brasileiro. Com o gol de Lourency, aos 43 minutos do segundo tempo e encerrando a invencibilidade do tricolor no estádio.
Um triunfo maiúsculo, mantendo o retrospecto sem derrotas para o Flu nos seis confrontos – cinco vitórias e um empate. Mais ainda, a consolidação do modelo de jogo. Atual e executado com correção. Com mudanças pontuais em formação, desenho tático e proposta, mas seguindo uma linha, um norte.
Com a Arena Condá para mandar seus jogos, mas agora sendo forte também fora de seus domínios. Desta vez sem goleadas como os 5 a 0 sobre o Internacional, 5 a 1 no Palmeiras e os 4 a 1 sobre o próprio Fluminense. Porém com uma campanha mais sólida e regular.
Exemplo a ser seguido por pensar em continuidade, mesmo na roda-viva do futebol brasileiro. Sim, sem a pressão dos grandes clubes, sempre no olho do furacão. Mas ainda assim não apelando para imediatismos, euforia ou desespero.
No país em que tantos se acham gigantes, a Chapecoense se destaca por saber exatamente o seu tamanho e o quanto pode crescer. Um modelo de consciência.
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