Topo

André Rocha

O melhor técnico do Rio Grande do Sul não está na dupla Gre-Nal

André Rocha

23/09/2016 11h01

O Rio Grande do Sul sempre foi vanguarda tática no futebol brasileiro. Desde o Internacional poderoso dos anos 1970 com Rubens Minelli utilizando Marinho Peres como libero até o Grêmio de Tite jogando futebol desta década em 2001 e amassando o Corinthians no Morumbi com marcação pressão na final da Copa do Brasil.

Tite que é o quarto treinador seguido da seleção brasileira com a história ligada à região. Mesmo descontando a invenção de Dunga como técnico, é um número significativo.

Mas hoje Grêmio e Internacional vão na contramão. Até seguem vivos na Copa do Brasil e o tricolor pode reagir no Brasileiro com a chacoalhada na motivação que Renato Gaúcho, ídolo máximo do clube, sempre promove em seus times.

Ainda assim, é impressionante que por conta do ano eleitoral tantas decisões políticas tenham levado os maiores clubes gaúchos a esta situação. Roger Machado pagou por seu ótimo e surpreendente trabalho em 2015. Argel Fucks foi demitido pela relação tensa com dirigentes e elenco – mas não foi contratado pelo perfil "sanguíneo" e a personalidade forte?

Nem entraremos aqui na alternância de perfis de treinadores, pois é uma discussão que o futebol brasileiro ainda não está preparado para lidar. A questão na dupla Gre-Nal é o imediatismo e a volta ao passado. Com poucos meses para terminar os mandatos dos presidentes, o ideal seria buscar um nome de consenso entre os candidatos à sucessão e firmar o compromisso de mantê-lo independentemente do resultado nas urnas. Uma utopia.

A solução: buscar técnicos com história, mas sem mercado na Série A. O Inter de Celso Roth afunda no Brasileiro. De que vale em 2016 a conquista da Libertadores em 2010? O Grêmio ainda voltou mais no tempo atrás de Renato e mais Valdir Espinosa, técnico campeão mundial em 1983. O carisma pode até fazer o time se recuperar, mas em termos de conteúdo de futebol atual, que sobrava em Roger, o caminho é muito incerto.

Por isso o melhor treinador gaúcho da atualidade está no Juventude. Antonio Carlos Zago, que buscou conhecimento na Europa depois de um início prematuro como treinador. Deu um passo atrás na carreira como auxiliar na Roma e no Shakhtar Donetsk, mas fez os cursos da UEFA e voltou mais preparado.

O Juventude que comanda há mais de um ano é organizado e intenso. Sofreu em casa para garantir a vaga nas quartas de final da Copa do Brasil depois da surpresa nos 2 a 1 sobre o São Paulo no Morumbi, mas o campeão de 1999 vai enfrentar o Atlético Mineiro decidindo em casa. Na Série C vai definir o acesso contra o Fortaleza. Contando com o vice-campeonato gaúcho, a temporada é produtiva e promissora.

Inclusive para o técnico que não é novato no ofício, mas vai se reinventando, atualizando. Como deve ser. Assim como é obrigatório dar tempo ao profissional para desenvolver seu trabalho se há lastro de evolução. Como o Brasil de Pelotas faz com Rogério Zimmermann, há quatro anos no cargo e disputando o acesso à Série A. Um outro ótimo exemplo que vem do Rio Grande do Sul.

Pena que Inter e Grêmio, tão próximos geograficamente, mantenham distância olhando para trás. Ou mirando uma foto amarelada na parede.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.