Até quando o acaso vai proteger o Atlético Mineiro?
"O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído". A canção "Epitáfio", dos Titãs, foi escolhida por Carlos Alberto Parreira para ser o tema da seleção brasileira para a Copa do Mundo de 2006.
O prenúncio do que viria como punição pela bagunça da preparação midiática em Weggis: o favorito absoluto antes do torneio que acreditou que só o talento bastava foi subjugado pelo futebol coletivo da equipe do gênio maior daquele Mundial: Zinedine Zidane.
Corte para 2016. Dez anos depois, o Atlético Mineiro de Marcelo Oliveira certamente trabalha bem mais sério na Cidade do Galo. É terceiro colocado no Brasileiro com chances de título por ainda enfrentar Palmeiras e Flamengo, em casa.
Mas se tem qualidade individual na frente acima da média brasileira, defensivamente parece sempre jogar de forma aleatória, entregue à própria sorte.
Sem controle seria a melhor definição. Mesmo com Rafael Carioca, um volante de passe certo e que sabe ditar o ritmo, Marcelo Oliveira segue padecendo dos mesmos problemas dos tempos de Palmeiras: seu time não retém a bola em momentos importantes do jogo.
A intensidade dos tempos de Cuca e que seguiram como herança para Levir Culpi continuam como marca do Galo. Importante no futebol atual. Mas a solução das jogadas não precisa ser tão rápida. Muitas vezes apressada.
O time mineiro até tem bons números no Brasileiro em passes. É o quinto que mais acerta entre os 20 da Série A. Na posse de bola também só fica atrás de quatro equipes. Mas é muito mais em função do volume de jogo e da proposta ofensiva dentro ou fora de casa que acuam o rival do que por uma estratégia mais equilibrada e uma equipe com linhas mais próximas.
A torcida se habituou com as conquistas recentes e tem fé na força do ataque, que já foi às redes 44 vezes e só fica atrás do Palmeiras, ataque mais positivo, e do Santos na relação finalizações/gols. Precisa de não mais que sete conclusões para ir às redes.
É time que "fede" a gol e compensa os 36 sofridos – só sete times foram mais vazados no Brasileiro. Não por acaso Robinho é o artilheiro do país com 23 em 42 jogos. Onze na principal competição nacional. Um a mais que Fred.
Na vitória sobre o Juventude no Mineirão pelas quartas-de-final da Copa do Brasil, Pratto foi quem decidiu, ainda no primeiro tempo. Não sem sofrimento. Porque o time relaxou e perdeu intensidade na volta do intervalo. Sem volume ofensivo, viu a bola bater e voltar e ser ameaçado pelo organizado time gaúcho comandado por Antonio Carlos Zago.
Ainda mais depois da tola expulsão de Carlos César aos 23 do segundo tempo. Já havia perdido Erazo por lesão na primeira etapa. Mesmo terminando com 59% de posse, permitiu nove finalizações do adversário e só não cedeu o empate que seria trágico para a volta em Caxias do Sul por mais sorte que juízo.
Curiosamente em uma noite de gols marcados fora de casa de Palmeiras, Internacional e Cruzeiro que mantiveram tudo aberto nos confrontos com Grêmio, Santos e Corinthians, respectivamente, foi justamente o Atlético o único a não ser vazado.
Apesar dos muitos problemas coletivos diante de um adversário valente e bem treinado, mas com as limitações técnicas naturais de um time que disputa a Série C nacional. Foi no sufoco, de novo.
Até quando o acaso vai proteger o Galo?
(Estatísticas: Footstats)
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