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André Rocha

Ainda não dá para encarar os alemães

André Rocha

08/10/2016 17h39

Nunca mais acontecerá um 7 a 1, até porque já existe o histórico e em todo confronto haverá a lembrança – e a cautela. E, a rigor, o Brasil de Tite só precisa estar pronto para um novo duelo que envolve nove títulos mundiais em 2018, na Rússia.

Mas vendo a Alemanha jogar fica claro que, apesar de toda evolução recente da seleção canarinho, o estágio de trabalho é bem superior. Natural, até porque os campeões mundiais têm uma base pronta e não deixam de renová-la para manter o altíssimo nível.

A começar por Kimmich, jogador que evoluiu demais nas mãos de Pep Guardiola. O catalão não está mais em Munique, mas continua sendo o grande mentor do modelo de jogo da seleção alemã. Joachim Low coloca para jogar Kimmich e também Hector, laterais que atuaram praticamente os noventa minutos dos 3 a 0 sobre a República Checa em Hamburgo pelas eliminatórias europeias no campo de ataque.

Abrindo o campo, esgarçando a marcação e permitindo a mobilidade do quarteto ofensivo formado por Muller e Draxler nas pontas, Ozil e Gotze soltos na articulação e no ataque com a ausência por lesão de Mario Gómez, centroavante de ofício.

Troca de passes até se instalar no campo do oponente, inclusive os zagueiros Boateng e Hummels. No último terço do campo, um jogo mais acelerado para surpreender a marcação do adversário, que chegou a posicionar seis jogadores na última linha defensiva.

Kroos passa, Khedira se junta ao quarteto ofensivo e infiltra como elemento surpresa. Um volume de jogo absurdo por conta do entrosamento. Neste cenários os gols saíram naturalmente. Primeiro Muller, depois Kroos e de novo Muller – quatro gols em dois jogos nas Eliminatórias, 36 pela seleção. Dezesseis finalizações no total. Até Howedes, zagueiro adaptado à lateral que entrou na vaga de Hector, atacou e concluiu na direção da meta de Vaclik.

Domínio absoluto de quem teve 66% de posse de bola (chegou a 73% na primeira etapa) e acertou 92% dos mais de 600 passes. Postura ofensiva que permitiu apenas uma conclusão que deu trabalho a Neuer, muito mais útil na reposição da bola. Ainda entraram os talentosos Gundogan e Brandt, aquele mesmo da Olimpíada, para mostrar que a renovação segue firme.

Um recital da melhor seleção do planeta. Os analistas de resultados lembrarão da derrota para a França na semifinal da Eurocopa. Quem vê desempenho, porém, sabe que o padrão coletivo dos alemães segue insuperável. Em beleza e eficiência. Você pode até vencê-lo, mas dominá-lo é quase impossível.

Difícil encarar. Certamente não ouviríamos "Lá vem eles de novo!" ou "Virou passeio!", mas estamos abaixo. Ainda.

(Estatísticas: UEFA)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.