Topo

André Rocha

Não é piada! O primeiro 4-1-4-1 no Brasil quem montou foi...Luxemburgo

André Rocha

11/10/2016 08h20

Foto: luxemburgo.com.br

Foto: luxemburgo.com.br

Virou meme na internet e até vídeo musical no Youtube a participação de Vanderlei Luxemburgo no Bem Amigos. O tema já foi tratado neste blog – leia AQUI.

Mas de tanto o treinador falar no sistema 4-1-4-1 este que escreve foi pesquisar, inicialmente por curiosidade, qual teria sido a primeira execução no Brasil do esquema como se pratica hoje, ou o mais próximo disto. Ou seja, dois ponteiros voltando na linha dos meias e os quatro à frente de um volante e atrás de um centroavante.

O Flamengo de 1981, tão citado por Vanderlei nas entrevistas, poderia ter sido o precursor. Mas o próprio técnico Paulo César Carpegiani afirmou para Mauro Beting no livro sobre esta equipe que o desenho tático era um 4-2-3-1 pois, para ele, Adílio era mais um segundo volante auxiliando Andrade do que um meia que se juntava a Zico, com Tita e Lico pelos flancos. O blogueiro e coautor da obra, lançada pela Editora Maquinária em 2011, até discorda. Mas como questionar o treinador que armou a equipe?

Sendo assim, avançando na história do esporte no Brasil passamos por alguns times atuando na prática no 4-5-1, como o Corinthians de Sócrates em 1984, o Fluminense tricampeão carioca de 1983 a 1985 e campeão nacional em 1984, além do Bahia campeão brasileiro de 1988, mas não com a mesma distribuição das peças. Até chegar novamente ao Flamengo, campeão carioca em 1991 e brasileiro no ano seguinte.

Comandado por Carlinhos, tinha os jovens Paulo Nunes e Nélio nas pontas voltando com os laterais até o campo de defesa rubro-negro se necessário e dando liberdade para Junior armar o jogo e municiar o artilheiro Gaúcho. O volante entre as linhas era Uidemar. Obviamente tudo dentro da dinâmica e do ritmo do futebol no início dos anos 1990.

Só que esta estrutura foi montada pelo antecessor de Carlinhos. Um jovem técnico que saiu do clube de forma intempestiva, reclamando da estrutura da Gávea. Segundo ele, faltava até bola para treinar. Quem? Vanderlei Luxemburgo, contratado no início de 1991 depois de ganhar notoriedade com o título paulista pelo Bragantino no ano anterior.

O grande dilema de Luxemburgo era encontrar a melhor posição para Junior, o Leovegildo. Hoje comentarista da TV Globo e na época com 37 anos. Meio-campista que funcionava melhor voltando para armar o jogo. Mas não era volante, nem meia ofensivo. Neste período as funções eram bem distintas. Ou seja, Júnior recuado comprometia a marcação, adiantado não entrava na área adversária com a frequência de um camisa dez. Como resolver?

Luxemburgo teve a sacada: os pontas Alcindo e Marcelinho – sim, o que depois ganharia o "Carioca" e algumas rusgas com Luxemburgo – voltariam marcando os laterais adversários até a linha de fundo e liberariam os laterais do Fla para marcarem mais por dentro, deixando o posicionamento da última linha mais estreito, como funciona hoje. Isso fazia com que um volante apenas fosse suficiente para proteger a retaguarda.

Bola roubada, Junior, que não precisava se dedicar tanto no combate, recebia limpo e tinha opção do lateral ou do ponteiro passando em velocidade, do meia ao seu lado ou do pivô de Gaúcho. O time chegava no ataque para finalizar com, no mínimo, três jogadores e um deles não precisava necessariamente ser o camisa cinco veterano.

O primeiro ensaio foi na disputa da Libertadores, mas com Zinho fechando mais o meio que voltando até o fundo. Com a lesão do camisa onze, o técnico passou a usar jogadores mais agudos e velocistas. Deu certo num 3 a 0 sobre o Vasco no Maracanã pelo Brasileiro. Assim o Fla teve um esboço de reação no campeonato nacional, sem conseguir a classificação para as fases finais em tempos de mata-mata. Depois se recuperou vencendo a Copa Rio, torneio que dava vaga à Copa do Brasil, e iniciando bem o Carioca.

O genioso e, na época, genial Luxemburgo saiu reclamando para comandar o Guarani e chegou Carlinhos, que tentou algumas vezes voltar para o 4-4-2, mas as lideranças da equipe – Gilmar Rinaldi, Wilson Gottardo, o próprio Júnior e Gaúcho – sempre convenciam o treinador a retornar ao 4-3-3. Na prática um 4-1-4-1. Pensado e iniciado por Vanderlei, que talvez nem lembre mais disto.

Não é piada. Em 1991, Luxemburgo foi mesmo um "cara de vanguarda".

O 4-3-3, na prática um 4-1-4-1, que Luxemburgo armou pela primeira vez no Flamengo no Brasileiro de 1991 - vitória por 3 a 0 sobre o Vasco. Os pontas Marcelinho e Alcindo recuando para dar liberdade a Junior. Sacada do jovem treinador que seria a base tática do time rubro-negro campeão carioca em 1991 e brasileiro no ano seguinte (Tactical Pad).

O 4-3-3, na prática um 4-1-4-1, que Luxemburgo armou pela primeira vez no Flamengo no Brasileiro de 1991 – vitória por 3 a 0 sobre o Vasco. Os pontas Marcelinho e Alcindo recuando para dar liberdade a Junior. Sacada do jovem treinador que seria a base tática do time rubro-negro campeão carioca em 1991 e brasileiro no ano seguinte (Tactical Pad).

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.