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André Rocha

Guardiola arrisca, Messi não perdoa

André Rocha

19/10/2016 19h00

Quem contrata Pep Guardiola sabe ou precisa ter consciência que está levando para o seu clube um treinador genial, um arsenal de ideias que busca a vitória, mas não tem medo de correr riscos. Acerta muito, mas às vezes erra. Feio.

Obsessivo, certamente estuda mais que o habitual quando vai enfrentar o Barcelona. Ainda mais no Camp Nou, palco de tantas conquistas como jogador e na primeira experiência como técnico.

Com o Bayern na semifinal da Liga dos Campeões de 2014/2015, tentou criar superioridade numérica no meio, mesmo com a solução insana de deixar Messi, Suárez e Neymar no mano a mano com um trio de defensores. Mudou ainda no primeiro tempo, mas quando o time bávaro cansou de uma dura batalha técnica e tática, Messi decidiu deixando Boateng no chão e encaminhando os 3 a 0.

Nova visita, agora com o Manchester City e apenas quatro meses de trabalho. De novo a ideia foi ter superioridade numérica no meio e criar uma indefinição para Busquets. Por isso a escolha por Kevin De Bruyne como "falso nove", Sterling e Nolito nas pontas. Kun Aguero no banco.

Barcelona com Mascherano na lateral direita, Umtiti na zaga e a formação clássica do meio para frente. Perdeu Jordi Alba ainda no primeiro tempo. Depois Piqué. Entraram Digne e Mathieu. Teve problemas com a marcação adiantada do time inglês, apesar dos 53% de posse de bola nos 45 minutos iniciais. O City finalizou sete vezes contra apenas três do time catalão.

Mas a retaguarda vacilou e Fernandinho escorregou na frente de Messi quando o gênio argentino entrou na área adversária no já conhecido movimento de diagonal da direita para dentro. E aí não tem perdão.

Assim como os deuses do futebol, no segundo jogo grande da temporada, mostraram novamente a Guardiola que a opção por Bravo que mandou Joe Hart para o Torino, segundo a versão oficial, apenas pela qualidade na saída de bola vai cobrar seu preço. A expulsão do goleiro após um erro banal de passe e mão na bola em disputa com Suárez desmontou o plano de jogo.

Com espaços à vontade, Messi sobrou circulando entre as linhas. Fez o segundo e o City errou mais uma vez, na saída de bola com Gundogan, escalado exatamente para qualificar o passe e não sobrecarregar Fernandinho. Terceiro gol do camisa dez, que ainda sofreu o pênalti que Neymar desperdiçou e depois se redimiu com um golaço, rabiscando dois adversários com a disputa já em ritmo de treino.

Em dois jogos contra o Barça no Camp Nou, Guardiola leva para casa sete gols. Cinco de Messi. Apesar de sua visão particularíssima que revolucionou o jogo é para pensar se não vale a pena simplificar um pouco mais para se manter competitivo diante de uma equipe formada, com proposta de jogo assimilada e tão desequilibrante na frente.

Porque sempre que ele arrisca, Messi não perdoa. Em alguma das cinco vezes em que seu time foi alvejado pelo gênio argentino, é humano imaginar o técnico pensando: "por que eu criei esse monstro?"

(Estatísticas: UEFA)

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.