Já é hora do Fluminense deixar a Era da Incerteza
Dezesseis anos não são duas semanas e dois dias. Era previsível e é possível compreender a dura transição no Fluminense depois do fim da parceria com a Unimed. Ainda mais pelo desinteresse do patrocinador em ajudar o clube a se tornar autossustentável.
Cortar o cordão umbilical sem uma preparação foi como largar o filho juvenil no mundo para tomar suas próprias decisões. E o Fluminense nem se saiu tão mal no início do processo, buscando outras fontes de receita, equacionando dívidas, renegociando contratos. Segundo um ex-dirigente, "pilotar o próprio carro popular e não a BMW alheia".
Até que o jovem se sentindo independente, ou o senhor maduro novamente solteiro, resolveu bancar uma festa cedo demais. Sim, Ronaldinho Gaúcho. Segundo o presidente Peter Siemsen em entrevista ao UOL, sem o aval do então treinador Enderson Moreira. O velho equívoco de achar que o craque por si só, sem um time forte, é capaz de se pagar.
A equipe competitiva do início do Brasileiro se perdeu, mesmo com o craque boêmio entrando pouco em campo. Porque é difícil se achar sem uma convicção mínima, uma linha de raciocínio. Sempre no caso a caso.
Envolvendo até Fred, que foi considerado descartável quando o time venceu a Primeira Liga sem ele. Na coletiva de despedida do artilheiro, o blogueiro esteve nas Laranjeiras e a leitura foi de que a permanência do ídolo no clube se deu pelo salário que ainda era alto para os padrões brasileiros, mas principalmente por se sentir parte do processo decisório como imagem e referência.
Quando colocado como uma peça da engrenagem, importante mas sem tratamento especial, e tolhido pela hierarquia, preferiu um Galo mais estelar, competitivo e com melhor estrutura.
Agora o Levir Culpi fortalecido de outrora é demitido. Também porque o clube não se preparou para caminhar sem Fred – figura midiática, lider e conselheiro dos mais jovens. Artilheiro que acostumou a todos com o papel de coadjuvante, assistente. O resultado prático é um time inconstante, hesitante.
Para complicar, a demora em definir um estádio como "casa" no Rio de Janeiro sem o Maracanã e as viagens que dificultaram o planejamento da temporada. A relação cíclica com a FERJ e a frágil parceria com o Flamengo são outros exemplos da falta de convicções que respinga no campo.
Quando Levir sai dizendo que o Fluminense é "o clube que mais demite" e "um dos mais oscilantes no convívio entre vitória e derrota" reflete a visão de um profissional que percebe a insegurança geral que agora apela para a velha "chacoalhada". Muito conveniente num ano eleitoral.
Colocar o centro de treinamento para funcionar e, enfim, sair das Laranjeiras é passo importante para o futuro. Mas vital mesmo para clube e time de futebol é enfim escolher um norte e acreditar nele, mesmo com as turbulências no caminho. Deixar para trás a Era da Incerteza e seguir adiante.
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