Leipzig, o “Expresso do Oriente” que atropela velhos clichês
Nos últimos anos a Bundesliga vem sendo chamada de "campeonato de um time só" por conta do domínio absoluto do Bayern de Munique então comandado por Pep Guardiola. Na prática, uma seleção mundial com a base da campeã da última Copa e comandada por um treinador estudioso e obsessivo que disseca o adversário independentemente do seu nível tende a se impor com naturalidade mesmo.
Mas a história, inclusive recente, mostra que o clichê nem sempre funciona. Quando o atual tetracampeão nacional e gigante europeu hesita, sempre aparece alguma equipe competente no "vácuo". Nos últimos anos foi o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp. Com Thomas Tuchel e sua proposta inovadora e, consequentemente, arriscada de misturar jogo de posição e transições ultravelozes, as oscilações fazem surgir outra força emergente.
O RB Leipzig, time da Red Bull na Alemanha. A Oriental, nos tempos do Muro de Berlim. Agremiação fundada em 2009 que incomoda os valores mais tradicionais do país e dribla a lei que impede que empresas sejam proprietárias de clubes – usam o nome RasenBallsport de fachada. Mas em campo, nas dez primeiras rodadas da liga, o debutante consegue competir em igualdade com o grande favorito e dividir a liderança.
Fruto da ótima estrutura e do poder de investimento do clube, além do bom trabalho do técnico austríaco Ralph Hasenhüttl, que propõe um modelo de jogo com setores muito bem coordenados com o que há de mais atual no futebol: ataca preparando a defesa e defende pronto para o contragolpe. Com muita intensidade e pressão sobre a bola.
Tudo isso num desenho tático que parecia sepultado no mundo todo: o 4-2-2-2. Tipicamente brasileiro, criado para que o antigo "falso ponta" fosse incorporado definitivamente ao meio-campo e, com a liberdade dos laterais para atacar, os volantes ajudassem os zagueiros na cobertura.
No Leipzig o sistema é atualizado para girar em torno do camisa dez, o sueco Forsberg, um meia à moda antiga no estilo, mas com dinamismo impressionante para articular e ainda aparecer na área para finalizar. O austríaco Sabitzer é atacante que joga como meia, procura mais o lado direito e se junta à dupla Poulsen e Werner. O elenco ainda conta com o jovem "right winger" escocês Oliver Burke, de 19 anos.
O espaço no meio é preenchido por Naby Keita, meio-campista que joga de área a área com fôlego inesgotável e ótima presença no ataque. Os comandados de Hasenhüttl não se incomodam em centralizar o jogo e buscar tabelas e triangulações pelo meio.
Para compensar tanta ofensividade, praticamente com um quinteto agredindo os rivais, Hasenhüttl prende um pouco mais os laterais. Pela esquerda, um dos destaques da Liga: Halstenberg, que ganha um pouco mais de liberdade para apoiar, principalmente nas partidas na Red Bull Arena. Do outro lado, Ilsanker é volante, mas vem atuando pela direita.
Por ali também joga o brasileiro Bernardo, ex-Ponte Preta, filho do volante Bernardo, campeão brasileiro pelo São Paulo em 1986 e 1991 e da Copa do Brasil pelo Corinthians em 1995. Ele atua na posição do pai e também como zagueiro.
As improvisações não impactam tanto pelas funções essencialmente defensivas. O volante ítalo-alemão Diego Demme fica um pouco mais fixo na proteção dos zagueiros Willi Orban, outro com ótimo desempenho até aqui, e o veterano Compper. Todos com boa estatura e fortes no jogo aéreo para proteger o bom goleiro húngaro Peter Gulácsi.
É óbvio que a proposta ofensiva impõe riscos. Muitas vezes a equipe é surpreendida com linhas avançadas e expostas e, principalmente pela esquerda o lateral Halstenberg fica sozinho pela falta de um meia ou ponteiro auxiliando no combate.
Não há números impressionantes até aqui. Dortmund e Bayern marcaram mais gols – 25 e 24, respectivamente, contra 20 – e o time bávaro é o menos vazado, com apenas seis gols sofridos, um a menos que o Leipzig.
Timo Werner, o jovem artilheiro de 20 anos, marcou apenas cinco gols. Seis a menos que Modeste e Aubameyang, os goleadores máximos da competição. Não lidera nenhuma estatística nem se destaca por prezar a posse de bola.
Nenhum jogador ainda chamou a atenção de Joachim Low para a seleção. Só Joshua Kimmich, revelado pelo clube e no Bayern desde o ano passado. Talvez pela amostragem insuficiente, nem um terço do campeonato, de uma equipe que acabou de subir para a primeira divisão.
Pode não dar em título nem vaga na Champions, mas a primeira experiência do "Expresso do Oriente" na Bundesliga já vale por atropelar velhos clichês, provar que não é preciso uma constelação para montar um time ofensivo e competitivo.
Também deixa um alerta junto ao Hoffenheim, outro invicto na temporada, para o "bicho papão" de Munique: se não repetir a excelência das últimas temporadas pode ficar pelo caminho.
(Estatísticas: WhoScored)
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