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André Rocha

A vitória que faltava, com a assinatura de Tite

André Rocha

10/11/2016 23h36

O trabalho de Edgardo Bauza na seleção albiceleste está no início e não é bom. Mas era natural que a Argentina dominasse o primeiro tempo com mais posse e volume de jogo. Pela necessidade do resultado e por conta do entrosamento de uma base que chegou a três finais seguidas.

Também pela tensão natural do Brasil de Tite em seu grande teste, no Mineirão dos 7 a 1. Mas um nervosismo sem dispersão. Concentrado na execução do 4-1-4-1, ciente do tamanho do clássico, de que sofreria, sem "oba oba".

Dificuldade para compor o lado esquerdo e fechar o apoio de Zabaleta com Enzo Pérez e a flutuação de Messi. Marcelo muitas vezes ficou sozinho. Até Tite inverter Renato Augusto e Paulinho, que foi proteger o lateral esquerdo e também Fernandinho, pendurado por um cartão amarelo absurdo depois de uma disputa com Messi que até a falta é duvidosa.

O deslocamento de Renato para a direita criou uma solução decisiva: Coutinho saiu da ponta e procurou o setor que domina. Do lado oposto, recebeu de Neymar e partiu para a jogada característica: corte para dentro e um chute espetacular no ângulo de Romero.

Uma jogada com a marca de Tite. No Corinthians era Jadson, no Mineirão foi o craque do Liverpool. E diziam que a geração era fraca…

O talento descomplicou tudo, tirou o peso. A Argentina seguiu ofensiva e rondando a área. Nos primeiros 45 minutos, 53% de posse, seis finalizações contra quatro brasileiras. Superioridade até nos desarmes certos: nove a seis.

Mas o contragolpe com Neymar ficou preparado. Primeiro pela direita em jogada individual que parou na trave. Depois na linda assistência de Gabriel Jesus para o camisa dez infiltrar em diagonal e tirar de Romero com uma tranqüilidade impressionante.

Segunda etapa de cuidados contra o 4-2-4 com a entrada de Aguero no lugar de Pérez. Controle e atenção no posicionamento, com a colaboração da atmosfera no estádio. Até Paulinho perder gol feito e depois se redimir no terceiro.

A partir daí começou a festa, com dribles de Neymar, chances seguidas com futebol objetivo, as entradas de Firmino, Douglas Costa e Thiago Silva para provar que qualidade não falta. E  gritos seguidos em homenagem a Tite. Muito justos. Impressiona a rapidez com que uma seleção que treina tão pouco mudou modelo e padrão.

Fruto de um trabalho obsessivo de estudo, observação, análise, acompanhamento. De toda a comissão técnica, mas com um gestor exemplar. Na tática e na condução do grupo. É possível questionar uma ou outra decisão, mas o saldo até aqui vai além dos 100% de aproveitamento. Desempenho que leva ao resultado.

Liderança garantida, vaga na Copa da Rússia encaminhada e a vitória que faltava para mudar o espírito de vez. Triunfo com a assinatura de Adenor Leonardo Bacchi, o Tite.

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.