Carta aberta a Rogério Ceni: volte às origens, comece no Sinop
Caro Rogério Ceni,
Não sou muito adepto deste recurso da carta aberta, até porque muito provavelmente não chegará a você. Muito menos deve mudar sua decisão. Mas vale o exercício, o registro.
A demissão de Ricardo Gomes antes do fim da temporada parece mesmo a senha para o anúncio de seu nome como novo treinador do São Paulo. A notícia para encher o torcedor de esperança nesta virada de ano. Voltar a ser o time da fé.
Pela liderança, pelo cuidado na administração da carreira, pelo amor ao clube e pela dedicação a tudo que faz tem muita chance de dar certo. Até porque o nível por aqui nem é tão alto assim. O melhor está na CBF. A sua visão de jogo demonstrada no campo e nas entrevistas e a busca de conhecimento na Europa, embora por um tempo relativamente curto, são bons indícios.
Mas, você sabe bem: as expectativas serão imensas, desproporcionais para um iniciante. Lembre que Guardiola foi espetacular em sua primeira experiência. Mas isto é a exceção. E o catalão não foi o maior ídolo da história do Barcelona. Será muito peso, mesmo para um gigante como você.
Por isso eu deixo aqui uma humilde sugestão: volte às origens, comece no Sinop, lá no Mato Grosso. Jogou a Série D deste ano. Chegue com toda sua visibilidade, atraia os holofotes para o clube que lhe revelou. Seria um gesto nobre, grato. Dos grandes. Inicie uma nova carreira de baixo, com mais margem de erro. Porque você é mito, mas não infalível. Nem na meta você era perfeito. Ninguém é.
No São Paulo vão olhar para o banco ou para a área técnica esperando os feitos do goleiro artilheiro. As defesas, a precisão nas cobranças de faltas e pênaltis. O grito que partia da meta orientando a retaguarda agora vai ficar mais longe. E pode acreditar: no calor do jogo, no imediatismo do torcedor, na dor de uma derrota não vão lhe perdoar.
Mesmo que a reverência transforme uma possível vaia num silêncio doído, vai machucar. E lembre do que fizeram com Ricardo Gomes: garantiram o cargo depois dos 4 a 0 sobre o Corinthians, agora o bilhete azul. Assim que funciona o futebol brasileiro. E o São Paulo deixou de ser diferente há um bom tempo. Ainda mais em ano eleitoral como 2017.
Olhe o que aconteceu com Dinamite como presidente do Vasco, Zico como diretor de futebol do Flamengo, Falcão no Internacional. O Renato Gaúcho no Grêmio é um bom exemplo para o momento, só que ele começou efetivamente a carreira de treinador em 2000 e só foi assumir o tricolor gaúcho dez anos depois.
Por isso pense. Ainda dá tempo de mudar de ideia e começar diferente. O Sinop seria uma espécie de divisão de base como treinador. Para você amadurecer sem virar vidraça tão rápido. Sem arranhar em três jogos a mitologia construída em quase três décadas. Sem entrar no moedor com a carne tão inteira.
Respeitosamente
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