Topo

André Rocha

O que é de Roger, o que é de Renato. O que não é de Marcelo Oliveira

André Rocha

24/11/2016 00h41

Era difícil acreditar na redenção de Renato Gaúcho em um trabalho de três meses. Sem estudo e maiores atualizações para comandar uma equipe trabalhada por Roger Machado em conceitos modernos.

O futebol é espetacular porque não tem verdades absolutas. Foi exatamente na combinação do que o antecessor deixou com o polimento do olhar mais vivido do maior ídolo da história do clube que o Grêmio se arrumou para buscar o título nacional que não vinha há quinze anos.

De Roger, os movimentos já memorizados de apoio ao jogador com a bola, criação de linhas de passe, profundidade, abrir o jogo para espaçar a marcação adversária. De Renato, a gestão de grupo, o carisma que mobiliza, o ajuste defensivo com soluções mais simples, embora se note a compactação dos melhores momentos da campanha surpreendente no ano passado. As correções nas jogadas aéreas. O que era preciso.

Por isso não é justo tirar méritos do atual treinador, mas seria cruel não lembrar da semente plantada por Roger. O resultado prático é um time bem coordenado, com Walace e Maicon qualificando a saída e negando espaços à frente da defesa. Volantes passadores e eficientes.

As linhas de quatro sem a bola deixando Douglas e Luan participando sem a bola mais na pressão sobre os defensores. Ramiro é muito mais um volante que atua aberto e ajuda Edilson a bloquear pelo setor direito e deixou o time um pouco mais equilibrado, sem esvaziar o meio-campo. Já Pedro Rocha é o ponta agudo na transição ofensiva, partindo em diagonal a partir da esquerda para finalizar.

O ponteiro foi o personagem dos 3 a 1 sobre o Atlético no Mineirão que encaminha a conquista tão esperada. Dois gols aproveitando a bagunça defensiva do oponente, uma chance cristalina perdida à frente de Victor e a tola expulsão que trouxe o Galo de volta ao jogo na segunda etapa.

Porque só o acaso, os eventos aleatórios que tornam o futebol tão previsível e apaixonante poderiam recolocar a equipe de Marcelo Oliveira na disputa. O treinador vencedor, bom gestor de grupo, que incentiva o talento e a improvisação de seus jogadores. Mas que não consegue organizar minimamente um sistema defensivo nem fazer seu time controlar o jogo.

Não é raro ver o Galo se defendendo com apenas seis jogadores, setores distantes, sem pressão, com erros graves de posicionamento. Capaz de levar numa decisão de torneio nacional um gol de fim de pelada, o segundo de Pedro Rocha arrancando sozinho e com incrível facilidade.

Aí não há garra de Leandro Donizete, talento de Robinho, presença de área de Pratto, o apoio de Júnior Urso e defesas de Victor que resolvam sempre. Nem o belo gol do zagueiro Gabriel que alimentou uma esperança de novo "milagre". É claro que Luan, Otero e Fred fizeram falta, mas a facilidade com que o Grêmio atuou, especialmente no primeiro tempo, é inviável no futebol atual. Ainda mais numa final.

O terceiro gol, num contragolpe no final do jogo em bela jogada do ótimo Geromel que encontrou Everton livre é aceitável pelo contexto. Ainda que o time mineiro contasse com um homem a mais. Mas para a volta na Arena do Grêmio parece a pá de cal. Só não dá para garantir a quinta Copa do Brasil do tricolor gaúcho porque isso é futebol.

Até a capacidade de reação do Galo nas conquistas recentes precisa ser relativizada, porque as viradas sempre aconteceram em Belo Horizonte. Como visitante fica quase impossível. Também por conta do que faltou taticamente à equipe de Marcelo Oliveira.

Sobrou o Grêmio. De Renato e de Roger. Moderno e com alma. Com jeito de campeão.

 

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.