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André Rocha

Viva o campeão! Agora é hora do Palmeiras pensar além do resultado

André Rocha

27/11/2016 18h54

Quando o Palmeiras empatou com o Atlético Paranaense no recém inaugurado Allianz Parque na última rodada do Brasileiro de 2014 e só não caiu porque o Santos, cumprindo tabela, venceu o Vitória no Bahia, era consenso que o clube precisava recuperar sua capacidade de competir em alto nível.

Os dois rebaixamentos, em especial o último em 2012, doíam muito numa geração de jovens torcedores que, a rigor, só tinham visto as conquistas do Paulista de 2008 e da Copa do Brasil manchada pelo descenso há quatro anos e um tanto desvalorizada por ter sido a última sem os times envolvidos na Libertadores.

Algo precisava ser feito e o presidente Paulo Nobre, como um mecenas, investiu o próprio dinheiro em um primeiro momento. Mas criando recursos para andar com as próprias pernas. Leia-se sócio-torcedor e receitas com o estádio. Alexandre Mattos veio do Cruzeiro, reformulou o elenco. Mais tarde, a contratação de Marcelo Oliveira, técnico bicampeão brasileiro.

O título da Copa do Brasil valeu para se impor na rivalidade recente com o Santos e, principalmente, para celebrar uma conquista relevante no novo estádio. Foi importante vencer. Ainda que com um futebol taticamente paupérrimo, que dependeu das individualidades e venceu na fibra e nas mãos de Fernando Prass o torneio nacional.

Com 2016 veio Cuca após Marcelo Oliveira não entregar resultado nem desempenho, mesmo com uma pré-temporada. Não deu tempo de recuperar no Paulista nem na Libertadores. O novo técnico, então, prometeu o título brasileiro. Afinal, havia elenco, estrutura e força em casa para isso.

Cuca fez sua equipe entregar bom futebol no primeiro turno, com Roger Guedes e Gabriel Jesus voando na frente. Mas quando o título pareceu de fato mais perto com a manutenção da liderança e a disputa ficou mais dura, ponto a ponto com os concorrentes, o Palmeiras aderiu a um pragmatismo focado no resultado poucas vezes visto. Mesmo na era dos pontos corridos.

Há várias rodadas o mantra "jogo pra ganhar, não pra jogar" ganhou força. O projeto pessoal de Cuca e a vontade geral de encerrar o jejum de 22 anos, com os rivais paulistas vencendo nada menos que dez títulos, se transformaram em obsessão. Toda partida foi tratada como uma tensa decisão e instaurou-se uma espécie de surto coletivo.

Até compreensível pelo contexto e que aliviou contra Botafogo e na vitória sobre a Chapecoense por 1 a 0 que garantiu matematicamente a conquista com mais posse de bola e volume de jogo. A angústia chega ao fim e agora é momento da justa catarse pelo título.

O torcedor tem todo o direito de extravasar, encher a internet de memes e zoar os rivais. Levantar a cabeça, bater no peito e dizer que sempre foi grande e voltou a ser gigante. Disparado o mais regular do Brasileiro de 2016, sem vacilar nos momentos decisivos.

Mas para o ano que vem é preciso pensar além do resultado. A tradição do clube é de grandes times, que jogam bom futebol. Querer jogar, ser protagonista, dominar os adversários. A gestão seguirá a mesma com Mauricio Galiotte, sucessor de Nobre. Dinheiro não vai faltar. Da venda de Gabriel Jesus, do novo contrato de patrocínio master, o maior do Brasil, e das fontes de receita que já existem e tendem a crescer.

Por isso já sai na frente dos concorrentes e vai montando seu elenco, mesmo sem a confirmação da permanência de Cuca. O técnico acerta ao buscar conhecimento, ainda que a Itália não seja o principal centro da Europa. É preciso seguir evoluindo.

A equipe campeã brasileira já dá sinais dos progressos do treinador: meio-campo mais técnico, com Moisés e Tchê Tchê, sem o volante marcador que sempre caracterizou suas equipes. Menos ligações diretas como nos tempos de Jô no Atlético Mineiro. Até as jogadas aéreas diminuíram na média.

Para este que escreve ainda falta aderir à marcação por zona, que é mais inteligente por desgastar menos os jogadores. O time se defende posicionado e não correndo. Ainda funciona por aqui, mas já na competição sul-americana pode complicar.

Se Cuca não ficar, que chegue um técnico que preze mais o jogo. Porque se o objetivo é vencer além das fronteiras brasileiras vai ser preciso entregar mais. Jogar bem, não necessariamente bonito. Algo condizente com as ambições do clube.

É mais que possível. O Palmeiras precisa e o futebol brasileiro também. Primeiro os títulos da redenção, agora é ter o que celebrar além dos três pontos.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.