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André Rocha

Os três pecados capitais na temporada sem títulos do Flamengo

André Rocha

28/11/2016 07h18

Cheirinho

O Flamengo cumpriu boa atuação coletiva nos 2 a 0 sobre o Santos, a primeira vitória no Maracanã em 2016 depois de três empates.

Muito pela inteligência da equipe em dosar energias, ajudada pelo gol logo aos quatro minutos de Paolo Guerrero. Também porque Zé Ricardo desta vez não mexeu nos ponteiros, o que bagunçou a equipe em outras partidas. Gabriel só deu lugar a Fernandinho com o jogo resolvido após o golaço de Diego e Everton ficou em campo durante os noventa minutos.

Com a confirmação na fase de grupos da Libertadores, fica para a última rodada apenas a decisão pelo vice-campeonato, que seria inédito nas edições desde 1971. Se perder em Curitiba para o Atlético Paranaense ainda na luta pela manutenção do G-6 e o Santos cumprir sua obrigação na Vila Belmiro diante do rebaixado América, o time rubro-negro termina em terceiro e receberá menos 3,4 milhões de reais de premiação da CBF.

Internamente, o G-3 sempre foi a meta no Brasileiro. Mas se o Palmeiras foi campeão com méritos, principalmente a regularidade na conquista dos pontos, o Flamengo ajudou com três pecados capitais na temporada sem títulos que tiveram forte influência na campanha:

1 – Muricy Ramalho

A diretoria reeleita comandada por Eduardo Bandeira de Mello usou o treinador quatro vezes campeão brasileiro como trunfo na eleição e praticamente entregou as chaves do Ninho do Urubu ao técnico que chegou com discurso de implantar a filosofia do Barcelona no clube após passar uns dias no clube catalão a convite de Neymar.

O tempo mostrou que faltou entendimento da metodologia e também leitura de jogo, porque o elenco foi montado para executar um modelo de posse de bola com vários ponteiros velocistas, nenhum jogador mais cerebral no meio-campo e Cuéllar foi o maior erro de avaliação: o volante colombiano é ofensivo e mostrou quando esteve em campo que não consegue cumprir minimamente as funções defensivas à frente da retaguarda. Por isso a titularidade de Márcio Araújo na "herança" que Zé Ricardo assumiu e fez o que pôde – muito bem para um estreante, diga-se.

2 – Sem casa

Rodar o Brasil em viagens sem fim para arrecadar era algo comum nos anos 1980 e 1990. O Flamengo chegava, fazia a festa dos torcedores locais, lotava o estádio e vencia equipes bem mais frágeis sem fazer muita força. O futebol não era tão intenso e exigente na parte física.

A disputa de um Brasileiro tão parelho sem um estádio no Rio de Janeiro cobrou caro, especialmente na reta final da temporada com o time exausto física e mentalmente. Desde 2008 o clube sabia que ficaria sem Maracanã e a opção do Engenhão no ano da Olimpíada e não tomou nenhuma providência. Sem contar erros estratégicos que acabaram sendo decisivos, como mandar o jogo contra o Palmeiras no turno em Brasília, o que na prática significou campo neutro na derrota por 2 a 1 no Mané Garrincha.

3 – O tal "cheirinho"

Para muitos o espírito de galhofa é o que sustenta o futebol e historicamente a torcida do Flamengo tende a se levar pela euforia e usar sua força para inflamar seu time e intimidar os rivais.

O"cheirinho de hepta", porém, foi algo criado nas redes sociais e se amplificou na mídia que se aproveita deste entusiasmo para aumentar audiência e caçar cliques e likes. Só que também ganhou algum eco no clube, ainda que o discurso "oficial" fosse de seriedade. Mas ao ver a comemoração do título pelos palmeirenses ficou claro que a petulância de quem garantia o título não tendo completado sequer uma rodada na liderança absoluta serviu como motivação extra do outro lado. O tal "inimigo" que muitos precisam ter como alvo para entregar ainda mais fibra. O Palmeiras tinha elenco, estrutura e estádio. Ganhou um motivo a mais para não errar até o final.

Na confirmação do título alviverde, a vantagem de SETE pontos. Não pode ser só coincidência.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.