Entre corpos e corporações
O mundo corporativo moderno manda maximizar o lucro e minimizar os custos.
O piloto da Lamia, Miguel Quiroga, preferia economizar alguns dólares viajando no limite do combustível do avião.
O mundo corporativo moderno ordena que se coloque os interesses da empresa acima de qualquer outro.
O piloto Miguel Quiroga, sócio da Lamia, conseguiu aprovar um plano de voo irresponsável para não perder o cliente.
O mundo corporativo moderno exige sangue frio para gerenciar crises e tomar decisões difíceis que beneficiem a companhia, ainda que contrariem os interesses dos demais.
O piloto da Lamia, Miguel Quiroga, administrou a falta de combustível em silêncio, temendo multas e sanções, e sequer deu a chance aos passageiros do avião de se protegerem da queda inevitável.
O mundo corporativo moderno não se incomoda em sacrificar vidas, explorando a mão de obra até que a depressão, a estafa, as LER e outras mazelas levem à exaustão, quando não há o trabalho escravo.
O piloto Miguel Quiroga era responsável por dezenas de vidas, inclusive a própria, e preferiu correr o risco de uma pane seca a aumentar seus custos de viagem ou mesmo se recusar a prestar o serviço por falta de recursos.
A cada imagem dos familiares das vítimas em desespero, a cada homenagem mundo afora à Chapecoense, toda vez que imaginarmos a dureza que será a reconstrução do clube e das famílias abaladas por esta estupidez é dever nosso refletir sobre o rumo que estamos tomando.
De nossas escolhas pragmáticas, do nosso embrutecimento em busca de resultados. Da nossa visão do outro como cliente ou fornecedor e não um semelhante, Gente como a gente.
Sim, a tragédia na Colômbia é a exceção, um caso particularíssimo com um contexto cada vez mais nebuloso. Mas a soma das pequenas decisões que levaram à queda do avião diz muito sobre o nosso cotidiano profissional. Das escolhas que fazem por nós.
Das corporações que não se importam com os corpos dilacerados e as almas destruídas. Que sejamos mais humanos, menos "profissionais". Pela nossa sobrevivência. Por nós e por todo mundo.
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