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André Rocha

Real 2x2 Dortmund - Mais um jogaço didático para técnicos brasileiros

André Rocha

07/12/2016 20h22

O colega Mauro Cezar Pereira levantou a bola na ESPN Brasil e Tostão reforçou em sua coluna na Folha de São Paulo. Na entressafra de treinadores no Brasil é salutar para jovens e experientes a atenção ao que acontece nos principais centros do planeta.

Como os 3 a 1 do Chelsea sobre o City em Manchester no sábado pela Premier League. Mais interessante tática e até tecnicamente que o superclássico na Espanha entre Barcelona e Real Madrid.

No encerramento da fase de grupos da melhor competição de clubes do mundo, o empate entre Real Madrid e Borussia Dortmund no Santiago Bernabéu foi mais um bom exemplo de uma disputa em alta velocidade, muita intensidade e variações táticas.

A começar pelo avanço do lateral Schemlzer como ala pela esquerda e deixando Bartra aberto na cobertura e Piszczek mais plantado à direita, quase como um terceiro zagueiro. A ideia era aproveitar a organização defensiva do Real em duas linhas de quatro para criar superioridade numérica no meio com Schurrle, em tese o meia aberto à esquerda, centralizando para junto com Gonzalo Castro e Weigl fazer três contra dois diante de Casemiro e Modric. Criar o "homem livre".

Mas havia um efeito colateral: Schmelzer avançava, não era tão efetivo na frente e na transição defensiva do time alemão abria um buraco pela esquerda que Bartra chegava tarde na cobertura e por ali passavam Lucas Vázquez ou James Rodríguez, Cristiano Ronaldo e Carvajal, que serviu Benzema no primeiro gol do jogo.

Equipes pressionando a saída de bola, jogando com setores próximos e acelerando para surpreender. Jogo aberto no primeiro tempo com posse de bola dividida e cinco finalizações para cada lado, mas quatro na direção da meta de Weindenfeller e apenas duas no alvo do Dortmund.

Mesma toada na volta do intervalo, com o time merengue pressionando o jovem Julian Weigl, que qualifica os passes na saída da defesa. Ora com Modric, ora com James.

O Dortmund minimizou os danos na retaguarda definindo uma linha de quatro com Schmelzer mais fixo. O Real respondeu mais forte pela esquerda, com as descidas de Marcelo e as trocas dos ponteiros. Jogada pelo setor, outro gol de Benzema. Jogo definido? Nem tanto.

Porque Zidane trocou o esgotado Modric por Toni Kroos, vindo de longa inatividade e sobrecarregando Casemiro, um dos melhores em campo. Thomas Tuchel melhorou a produção na frente com Emre More no lugar de Schurrle e Marco Reus na vaga de Pulisic. Dembélé foi para o lado direito, onde rende mais que centralizado. Depois Sebastian Rode substituiu Castro e reoxigenou o meio.

Mas o grande acréscimo na frente foi Reus, que seria titular absoluto não fosse a infelicidade de lesões seguidas. Um dos mais talentosos atacantes da Europa. Pelo centro, passou a dividir as atenções da marcação com Aubameyang e o Dortmund cresceu, mesmo correndo riscos. Inclusive um incrível gol perdido por Cristiano Ronaldo, que não consegue chegar aos 96 gols na Champions.

Gol de Aubameyang, empate no final com Reus. O Real tentou um abafa com Morata, que entrou no lugar de Benzema, e Cristiano Ronaldo na área rival. Jogaço de quinze finalizações contra doze, equilíbrio na posse. Grandes defesas de Weindenfeller e Keylor Navas.

Os times fazem história. O Real Madrid de Zidane aumenta a invencibilidade para 34 partidas e iguala a marca da temporada 1988/89. Com a segunda colocação, foge de Bayern de Munique e Manchester City. As bolinhas do sorteio costumam ser generosas com o time de Madrid.

Já o Dortmund alcança o recorde de gols numa fase de grupos da Liga dos Campeões: 21 gols em seis partidas, média superior a três por partida. Ajudaram a construir a liderança do grupo.

Sanha ofensiva, variações táticas, dois grandes times do continente e do planeta. Material obrigatório para observação e estudo. Para seguir antenado, sem "vanguarda" apenas no discurso.

(Estatísticas: UEFA)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.