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André Rocha

Por que os europeus nunca vacilam na semifinal do Mundial

André Rocha

15/12/2016 10h28

A vantagem financeira é abissal e cristalina, mas dinheiro não é tudo. Tanto que muitos gigantes milionários tropeçam diante de nanicos em suas ligas.

O Real Madrid, sem Gareth Bale e poupando Sergio Ramos, teve dificuldades nos 90 minutos diante de um América do México bem organizado por Ricardo La Volpe. Com cinco na última linha de defesa, mas sem abdicar do jogo. Mais uma prova de que retranca não tem relação direta com sistema tático.

O time de Zidane, seguro e pragmático, soube girar a bola com paciência, sofrer sem desespero e esperar a brecha até a jogada de Cristiano Ronaldo, Modric, a assistência de Kroos e o belo gol de Benzema que descomplicou o jogo já nos acréscimos de um primeiro tempo de 58% de posse merengue e dez finalizações contra cinco dos mexicanos.

Segunda etapa de controle para dosar as energias, mesmo com alguns sustos pelo ímpeto do América, defendendo invencibilidade de 16 jogos. Zidane fechou sua equipe em duas linhas de quatro com James e Morata nas vagas de Kroos e Benzema e aguardou o melhor momento para o contragolpe letal.

Veio nos acréscimos com o primeiro gol de Cristiano Ronaldo no Mundial com a camisa do Real, em nova confusão da arbitragem com o auxilio do vídeo. Mas nem precisava.

Porque o Real, assim como os europeus que chegaram a todas as decisão do Mundial Interclubes desde 2005, jogou ao natural, como uma partida qualquer. Sem a tensão que os sul-americanos carregam – um misto de medo do vexame, preocupação com a estreia, expectativa altíssima que só aumenta a ansiedade.

Foi assim desde o São Paulo em 2005 nos 3 a 2 contra o Al-Ittihad até a dura derrota do Atlético Nacional para o Kashima Antlers. Passando pelos reveses de Internacional e Atlético Mineiro contra Mazembe e Raja Casablanca. Quase sempre o emocional prejudicando por um certo superdimensionamento da disputa.

Não acontece com os campeões da Liga dos Campeões. Não que eles desprezem o torneio – o Real poupou peças na vitória por 3 a 2 sobre o La Coruña pelo Espanhol antes da viagem. Mas pelo posicionamento do Mundial no meio da temporada no Velho Continente, o peso é diferente.

Para os sul-americanos em geral é o fecho de ouro de um ano vencedor, muitas vezes com uma preparação longa demais, com prioridade total e até desprezando outras competições. O europeu não vai largar sua liga ou a Champions por isso.

Vem funcionando e o Real, que ampliou sua série invicta para 35 jogos, está em mais uma decisão. A segunda no novo formato. Em 2014 superou o argentino San Lorenzo, agora enfrentará o campeão japonês. Outra escola, outra atmosfera diante do anfitrião. Mas o mesmo favoritismo do continente que venceu oito em onze edições. Sem fraquejar na semifinal por deixar acontecer naturalmente.

Se tudo der errado na final de domingo será histórico, até um vexame. Mas não o fim dos tempos em Madrid.

(Estatísticas: Real Madrid)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.