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André Rocha

O mundo cão volta a latir alto para a Chapecoense

André Rocha

16/12/2016 01h48

Wagner Mancini Chape

Primeiro foram as declarações lamentáveis de Marco Polo Del Nero, Fernando Carvalho e Vitório Piffero ainda na dor recente da tragédia. Depois algumas homenagens prometidas que não aconteceram por detalhes tão pequenos diante da enorme perda, em contraste com toda a generosidade do Atlético Nacional , dos colombianos, do Barcelona e de outros cantos do planeta.

Agora, com a Chapecoense definindo diretoria e comissão técnica, as declarações do novo técnico Wagner Mancini lamentando a postura de times da Série A que inicialmente se colocaram à disposição para colaborar na reconstrução do elenco e agora disponibilizam apenas as peças descartáveis de sua folha salarial.

Como quem no final do ano revira o guarda-roupa e os armários para doar  sapatos velhos e camisetas furadas, como se o necessitado fosse uma lixeira do que não se quer mais. Tudo para passar o Natal com a "consciência tranquila".

Na prática, os clubes querem empurrar os próprios problemas para quem está precisando de ajuda. Não seria nada complicado se os "coirmãos" se reunissem e cada um disponibilizasse um reserva com potencial ou um jovem promissor. Com o devido cuidado para equilibrar o elenco por faixa etária e posição.

A Chapecoense não perdeu "apenas" 19 jogadores. Boa parte do planejamento também se foi com os dirigentes que estavam no avião da Lamia, sem contar a comissão técnica. Então até mesmo uma certa hesitação neste início na avaliação das possíveis contratações é mais que compreensível.

A maior tragédia da história dos esportes deixa um trauma ainda difícil de dimensionar. A falta de confiança nos pares também prejudica na hora de analisar as ofertas. Está claro que a missão não é, nem será fácil.

Não é tratar como "coitadinho", mas entender o impacto do ocorrido na vida de uma instituição ainda jovem, sem o lastro de outras e ganhando visibilidade maior agora por algo que ninguém gostaria que tivesse acontecido.

Por isto o blog insiste com a ideia de imunizar a Chapecoense de rebaixamento ao menos no ano que vem. No Brasileiro e também no estadual, pois está claro que o início da reformulação terá uma enorme complexidade. É hora de mostrar as duas grandes virtudes que levaram o clube ao seu auge: humildade sem complexo de inferioridade e noção de suas possibilidades.

Triste ver que depois dos corpos enterrados o mundo cão volta a latir alto e forte para quem ainda necessita tanto de um abraço. Sincero e solidário. A Chape vai precisar de toda força do mundo inteiro para se reerguer.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.