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André Rocha

Uma vantagem e um problema de ter Felipe Melo no seu time

André Rocha

29/12/2016 11h46

Maurizio Lagana (Stringer/Getty Images)

Crédito: Maurizio Lagana (Stringer/Getty Images)

Felipe Melo está no Brasil para a virada do ano, mas também para aceitar oficialmente a proposta de um clube, provavelmente o Palmeiras. Para jogar a Libertadores.

E aí já surgem os clichês: jogador "cascudo", com "espírito de Libertadores". Disputou duas, com o Flamengo em 2002 e Cruzeiro em 2004. Eliminado com os rubro-negros na primeira fase e com o time mineiro nas oitavas.

Está desde 2005 na Europa. Retorna com 33 anos, sofrendo com a irregularidade da Internazionale que contribuiu para a própria inconstâncias nas atuações. Portanto, não deixa de ser aposta. Alta, porque o salário certamente não será modesto.

Mas pode dar certo. Felipe Melo tem uma vantagem em relação a muitos de seus pares: gosta de futebol. Assistir, analisar, entender. Está antenado às transformações do jogo. Não por acaso é um bom passador, qualificando a saída de bola. Conhece bem a dinâmica dos principais centros do mundo.

Seus colegas, inclusive Neymar, só gostam de jogar. Até compreensível, devido ao massacre de partidas com muita pressão e uma quantidade de informações que não existia antes. Muito menos para os craques, que só ouviam: "Vá lá e faça o que você sabe".

Se fechar mesmo com o campeão brasileiro, Felipe pode ser um bom interlocutor da comissão técnica, conversar com Eduardo Baptista e ajustar o time em campo quando a interferência do treinador é mínima. O Brasil vem sentindo falta de lideranças que compreendem o jogo e têm conhecimento e autoridade para falar e ser ouvido.

Por outro lado, há um enorme ponto de interrogação quanto à postura do volante diante da arbitragem brasileira. Em nossos campos, Felipe ficará visado pelos adversários por sua fama de violento, consolidada na entrada criminosa em Robben na Copa do Mundo de 2010. Qualquer falta será um escândalo, com o oponente se contorcendo no chão como se tivesse a perna ceifada.

Na Europa o árbitro interfere menos, não interpreta como faltoso qualquer contato. Felipe joga assim há 11 anos e, mesmo sem tanto rigor, é punido com alguma frequência. Inclusive há 11 dias, na vitória da Inter sobre o Sassuolo. Cartão vermelho depois de dois amarelos.

Como será por aqui? Vai se irritar e colocar gasolina no incêndio? Durante a carreira, suas entradas violentas quase sempre aconteceram em jogos tensos ou por uma sequência de acontecimentos em campo que minaram seu controle emocional. Inclusive no Brasil x Holanda há seis anos na África do Sul.

Felipe Melo pode ser o meio-campista inteligente e o volante brucutu em uma mesma partida. Tudo depende da sua cabeça, inconstante até nas inúmeras polêmicas em que se mete em redes sociais e programas de TV. Que o Palmeiras ou outro clube brasileiro que feche com ele tenha consciência do "kit" que está contratando.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.