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André Rocha

Jair Ventura, exclusivo: Simeone é modelo, Montillo um mistério

André Rocha

11/01/2017 09h42

Jair Ventura Botafogo

Agora com pré-temporada, o jovem técnico do Botafogo pode consolidar seus conceitos que apareceram já no Brasileiro de 2016. Sucedeu Ricardo Gomes, manteve a estrutura inicial e depois acrescentou suas convicções ao time que surpreendeu se firmando no G-6.

Com a cabeça fervilhando de ideias, o filho de Jairzinho atendeu ao blog por telefone e falou sobre os planos para 2017.

BLOG – Você assumiu o time na saída de Ricardo Gomes para o São Paulo, manteve a estrutura da equipe e depois foi mudando. O que você planeja taticamente para a temporada?

JAIR VENTURA – Eu trabalhei com vários sistemas. De fato, no início mantive o losango no meio-campo que varia para duas linhas de quatro sem a bola – um volante abre, o externo recua do outro lado e deixa o meia e o centroavante na frente. Mas joguei com meio no quadrado (4-2-2-2), 4-2-3-1, 4-3-3 com um e dois volantes. Tudo depende da necessidade e da disponibilidade do elenco. Jogo a jogo.

BLOG – A estratégia do adversário também influi, certo?

JAIR VENTURA – É claro, por isso estudamos tão minuciosamente quem vamos enfrentar. O jogo pode pedir dois centroavantes ou dois meias, por exemplo, se o rival fecha bem as laterais. Já terminei jogo com o Camilo mais recuado ou só o Lindoso de volante, ele que era camisa dez do Madureira. Mas primeiro dependo do elenco disponível. Quando perdi Aírton e Bruno Silva não havia razão para escalar três médios atrás do Camilo.

BLOG – Haverá rodízio no elenco?

JAIR VENTURA – Ele acontece naturalmente, por lesões e, principalmente, pelo desgaste. O jogo está muito intenso, são cada vez mais ações de alta intensidade no campo. Antes o jogador perdia a bola e voltava para o próprio campo para depois marcar. Hoje ele perde e tem que pressionar. É exigência do futebol atual o atacante se dedicar sem a bola. Amadurecemos isso e os números mostram que deu certo, fomos a melhor defesa do returno do Brasileiro.

BLOG – Como o Montillo vai funcionar nesta engrenagem?

JAIR VENTURA – Desculpe, mas isso não vou abrir porque gosto de criar dúvida e tentar surpreender os adversários. De qualquer forma, ainda vou sentar com ele, colocar um quadro e conversar sobre o melhor posicionamento.

BLOG – A ideia do ponta articulador, o meia que sai do flanco para articular as jogadas, te agrada?

JAIR VENTURA – Não é o ideal, mas pode acontecer. Por exemplo, se o lateral do adversário não desce tanto para fazer dupla contra o meu lateral. Se o jogo pedir ele pode ser meia com o Camilo. Não tenho medo de correr riscos se houver a possibilidade.

BLOG – A ideia de aproveitar os jovens da base no elenco permanece?

JAIR VENTURA  – Sem dúvida. Está no meu DNA, eu trabalhei na base. Em 2015 comandei o time como interino e contra o Bahia usei sete jogadores criados no clube. O Canales chegou para ser titular, mas o Sassá mostrou mais desempenho. Eu só não vou usar por usar. A avaliação precisa ser cuidadosa. Por exemplo, hoje eu não tenho um externo de velocidade dentro do clube pronto para entrar e repor a saída do Neílton. Tenho que ir ao mercado e não forçar uma barra só porque minha filosofia é lançar jovens.

BLOG – Para terminar, quais são suas referências como treinador, no Brasil e no mundo?

JAIR VENTURA – Posso dizer que sou um privilegiado, pois nos oito anos em que trabalhei como assistente técnico convivi com grandes treinadores aqui no Botafogo. Aprendi muito com cada um deles e sigo aprendendo, sou um eterno aprendiz. Mas lá fora meu espelho é o Simeone, do Atlético de Madrid. Sem grandes estrelas venceu Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique. O poder de persuasão dele é impressionante. Ninguém gosta de correr, o jogador prefere estar com a bola. Convencê-los a jogar sem ela nunca é fácil.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.