Ritmo da Premier League é o maior inimigo de Guardiola na Inglaterra
No eterno Fla-Flu do "Guardiolismo", os detratores dirão que acabou a moleza, o campeonato inglês é mais equilibrado, tem melhores times e Barcelona e Bayern sobravam porque jogavam contra equipes bem mais fracas. E talvez tenham alguma razão.
Já os fãs incondicionais do técnico catalão defenderão alegando que a culpa é do pouco tempo de trabalho para implementar sua filosofia e dos erros individuais dos jogadores do Manchester City, que não estão no mesmo nível de excelência dos atletas que o técnico comandou anteriormente. Não estão errados.
Difícil encontrar apenas uma razão para justificar o mau momento do City de Guardiola na Inglaterra depois do ótimo início, de seis vitórias seguidas e a liderança da liga. Mas ao cruzar a visão de futebol do treinador e o que se vê nos campos da Inglaterra é possível afirmar que o maior inimigo até aqui é o ritmo da Premier League.
É algo difícil de quantificar mas que salta aos olhos. O jogo na Inglaterra tem técnica e variações táticas, mas não permite tanta fluidez. É naturalmente caótico. As transições são muito rápidas, saindo das zonas de perigo no próprio campo. Induz as disputas físicas. A pressão no homem da bola é constante. Há mais choques e a arbitragem não marca falta em qualquer contato.
Guardiola constroi seu jogo posicional com passes desde a defesa, com calma, até se instalar no campo de ataque com praticamente todos os jogadores. Na perda da bola, pressão imediata para retomar a posse em não mais que dez segundos.
Como fazer isso se o fluxo é quebrado na pressão, no choque ou na bola longa mais bem planejada e executada, focada no rebote? A saída de bola fica "suja", os setores não se aproximam. Ou seja, é praticamente impossível ditar este ritmo. A essência do plano de Guardiola.
No Barça era Xavi quem controlava o tempo do jogo. As sístoles e diástoles do coração da equipe. No Bayern era Lahm. Primeiro no meio, depois como um lateral que jogava por dentro, participando na articulação. No City, Guardiola tentou com Fernandinho, Gundogan, David Silva, Yaya Touré. Sem sucesso, porém. E a questão não é a qualidade individual dos meio-campistas.
Simplesmente não há controle. No início, o time azul de Manchester surpreendeu com as novas ideias e pelo ritmo intenso que impôs, até pela necessidade de uma resposta rápida nos playoffs da Liga dos Campeões contra o Steaua Bucareste. Depois o time passou a ser estudado e o ritmo alucinante da Premier League acompanhou a intensidade do City.
Guardiola vai tentando se adaptar. Primeiro buscando criar superioridade numérica no meio com três zagueiros e Fernandinho e Gundogan qualificando o início da construção das jogadas. Na virada sobre o Barcelona pela Champions, a pressão absurda no campo de ataque e o contragolpe letal.
Nas derrotas para Chelsea, Leicester e agora Everton, os erros técnicos prejudicaram. Especialmente no passe que vira assistência ou na finalização. Mas a saída de bola continua sendo a questão mais complexa. Guardiola tenta acelerar, fazer a bola chegar mais rapidamente no campo de ataque para então fazer o jogo posicional.
Mas para isso é preciso espaçar mais os setores. Os laterais e os meio-campistas se adiantam para tornar o processo menos suscetível a erros. Só que deixam os zagueiros desprotegidos. Um equívoco e a retaguarda está exposta.
Qual a saída? Voltar à essência de suas ideias ou ceder totalmente e virar um técnico comum dentro do contexto da Premier League? Afinal, para que Guardiola foi contratado? Impor estilo ou aceitar a impotência diante do ritmo do jogo na Inglaterra?
Antonio Conte começou mantendo o padrão do Chelsea e fez sua equipe voar até a liderança colocando suas ideias. Só que a filosofia do treinador italiano é mais simples e flexível. Gosta de bolas longas, disputas físicas e na velocidade em todos os pedaços do campo. A solidez da linha de cinco atrás é uma diferença a favor.
O catalão está emparedado. Para piorar, a pressão e a visibilidade sobre o técnico mais estudado do planeta em um clube sem a história gloriosa de Barcelona e Bayern. Com mais equilíbrio, menos craques. Pouco tempo de trabalho. Fãs e detratores não deixam de ter razão.
Difícil é encontrar uma saída para Pep Guardiola voltar a acertar.
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