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André Rocha

"Você não é Tite nem Cuca" - Carta a Dorival Júnior, por Mozart Maragno

André Rocha

24/01/2017 12h51

Dorival Junior Mozart

ESCREVE MOZART MARAGNO (@momitinho)

Caro Dorival Júnior,

Não deve ter no Brasil alguém que admire mais o seu trabalho que eu. Mesmo com algumas ressalvas. Ou é fácil justificar a escalação do fraquíssimo Paulinho na partida decisiva da Copa do Brasil contra o Inter no ano passado?

Por isso, escrevo, com toda humildade, essa carta aberta em tom de alerta. O Santos de 2017 é promissor, mas só terá sucesso se usar a base, tradição do clube e tradição da sua história. Tudo bem que a safra não é das melhores, mas é nela que é preciso achar soluções.

O clube até tem feito até algumas boas contratações, encorpando o elenco, está na fase de grupos da Libertadores por absoluto mérito do técnico, mas há o risco de querer imitar o "modelo" de Corinthians e Palmeiras, o que Tite e Cuca fizeram nos últimos anos.

Você não é Tite ou Cuca. Dorival é Dorival. Dorival é quem chega no Santos e afirma jogadores da base, alguns encostados, até com alguma facilidade. Que faz esse trio jovem ser campeão olímpico. Dorival é quem fez até o improvável Rafinha jogar bola no Flamengo, é quem lança Coutinho.

É quem afirmou Alex Teixeira, é quem pegou Ramires no time reserva do Cruzeiro e em meses botou na seleção brasileira, é quem fez Ganso encantar o Brasil, Neymar sair do estágio de "filé de borboleta" pra astro nacional e internacional em pouco tempo.

O modelo de sucesso para você e para o Santos não será importar jogadores. Eles podem até auxiliar, darem sua contribuição, mas o êxito completo se dará a partir de soluções caseiras, ao risco que você sempre correu e terá de correr de novo.

Lembra do jogo contra a Ponte Preta em Campinas? Perdendo o jogo, lança mão de dois garotos, inclusive estreando o Arthur Gomes, que comeu a bola nesse dia. Correu o risco e foi premiado com a virada. É o risco que tem que correr, é o risco que faz parte da sua carreira e que faz as coisas conspirarem a favor. A coisa flui.

O atual campeão brasileiro contratou uns 50 jogadores nos últimos dois anos. E quem foi o melhor jogador, a estrela do time? Um menino da base, num clube tratado historicamente como comprador e não formador. Foi Gabriel Jesus quem deu o sopro de talento, que quando não esteve em campo acabou gerando o único momento de turbulência da equipe no Brasileirão durante os Jogos Olímpicos.

E o Corinthians do Tite? Tudo bem que o senhor Adenor não é muito adepto a usar a base, mas Malcom (lançado e afirmado por Mano Menezes) foi vital no Corinthians de 2015 campeão nacional, decidindo os dois confrontos diretos contra o Galo.

Dessa forma, Dorival, sempre se pode amadurecer e aprender com modelos vencedores dos adversários, mas sem renegar e fugir do seu DNA e do clube. Santos é base. Dorival é base. Matheus Oliveira, Arthur, André Anderson, Alexandre Tam (sim, é preciso haver o risco com a geração 1999) e outros garotos esperam sua chance. E Rodrygo merece ser tratado com atenção especial, é o próximo "raio" a cair.

Bota pra jogar sem medo de ser feliz, mesmo que a pressão de parte da torcida e até da diretoria seja ter um time de medalhões tal qual as equipes que fracassaram em 2000/2001. Não se iluda com "jogador cascudo em Libertadores". Isso é bobagem.

ESCREVEU MOZART MARAGNO

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.