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André Rocha

Alexandre Pato no futebol chinês confirma falta de ambição no campo

André Rocha

30/01/2017 11h11

Pato China

Alexandre Pato surgiu no Internacional em 2006 aos 17 anos como um fenômeno, a ponto do técnico Abel Braga esconder os treinos com o objetivo de prepará-lo para entrar voando nos profissionais, surpreender os adversários e também evitar uma negociação precoce.

Campeão mundial de clubes e da Recopa Sul-Americana, foi parar no Milan em 2007 e no ano seguinte estreou com gol na seleção brasileira principal. A impressão era que com a depressão de Adriano pela perda do pai, o talentoso atacante seria o herdeiro genuíno da linhagem Careca-Romário-Ronaldo.

As seguidas lesões na Itália reforçavam a imagem de uma vitima de problemas físicos ou simplesmente falta de sorte. Mas com a plena recuperação no Corinthians em 2013 e a tão sonhada sequência de jogos, ficou claro o maior obstáculo para Pato se tornar o que se esperava dele: a falta de ambição no campo, competindo.

Saiu escorraçado do Corinthians e, no São Paulo, quando vivia o melhor momento sob o comando de Juan Carlos Osorio, a insatisfação e o desejo de retornar ao futebol europeu. A ideia era coerente: se antes o problema eram as contusões, agora, inteiro e mais maduro, chegava a hora de brilhar.

Conseguiu a volta no Chelsea de Guus Hiddink, numa fase de transição e pouco tempo para mostrar seu trabalho. Não passou de um reserva conformado. Volta frustrante ao Corinthians, sabendo que não entraria em campo. Então caiu do céu a oportunidade: o forte Villareal, que disputa vaga na Champions e tenta complicar a vida dos favoritos Barcelona e Real Madrid no Espanhol.

Mesmo coadjuvante do companheiro de ataque Sansone, o desempenho era satisfatório numa grande liga. Em 23 jogos, seis gols e quatro assistências. Com 27 anos era o momento de evoluir e se afirmar de vez, ainda que um retorno à seleção com Tite no comando parecesse improvável.

E Pato vai para China, atrás de uma proposta milionária…Legítimo. Cada profissional sabe de seus projetos e padrões de vida. Talvez haja mesmo preconceito deste que escreve com a liga asiática emergente, ainda que as contratações sejam cada vez mais respeitáveis.

Mas para quem afirmava a vontade de jogar entre os melhores e havia recusado, ainda no Corinthians, proposta semelhante do mesmo Tianjin Quianjian no ano passado, a decisão não deixa de ser contraditória.

Indecifrável como o próprio Pato. Sempre feliz e tranquilo nas declarações, mas de carreira errante, incerta. Ou com a certeza de que ele suas ambições não estão no campo de jogo. Só aumenta a decepção de quem imaginava surgir uma estrela em 2007.

Talvez o espanto (e o erro) esteja nos olhos de quem não viu um grande monstro do nosso futebol se criar. Pena.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.