Leitura de jogo: o maior obstáculo para Gabigol ganhar espaço na Inter
Muito já se debateu sobre as dificuldades e as poucas oportunidades de Gabriel Barbosa, o Gabigol, na Internazionale. Talvez uma negociação precipitada para um jovem de 20 anos. Ou o erro foi na escolha da equipe, que tem Icardi como titular absoluto no ataque.
Mas a própria observação de que o brasileiro concorre com o jogador mais avançado do 4-2-3-1 do técnico Stefano Pioli já mostra a visão que o clube tem do jogador. Mesmo se destacando no Santos como um ponteiro canhoto pela direita que busca o centro para se juntar ao centroavante e finalizar, o encaixe possível no momento é na frente.
Exatamente por conta da maior dificuldade que Gabigol apresentou ao se deparar com defesas compactas que trabalham com marcação por zona em um nível mais alto que o futebol apresentado por aqui: leitura de jogo.
Em resumo, a capacidade de resolver em campo que espaço ocupar ou atacar, a maneira de se desmarcar, o trabalho coletivo procurando os companheiros para tabelas e triangulações, a compreensão da hora de driblar, passar ou finalizar na zona de decisão, próximo ou dentro da área adversária.
A final olímpica no Maracanã é um bom exemplo. Mesmo descontando a tensão pela responsabilidade de conquistar o sonhado ouro em casa, Gabigol participou pouco do jogo trabalhando aberto pela direita. Teve mérito na entrega para cumprir a função tática na recomposição, mas penou diante dos setores bem coordenados da Alemanha, com pressão na bola e coberturas.
Não por acaso, quando Tite precisou definir o ataque para a estreia já decisiva nas Eliminatórias contra o Equador em Quito, Gabigol foi descartado e depois não teve mais chances. As lacunas no entendimento do jogo pesaram.
Por isso hoje é visto em Milão como um homem para ficar mais à frente e usar sua boa capacidade de finalização. Jogador de velocidade e um ou dois toques na bola. Sem muito trabalho de pivô. Participar menos, porém de forma decisiva. A má notícia é que para isso a Inter já tem Icardi e com muito mais eficiência – está entre os 10 maiores artilheiros da temporada, com 15 gols.
Gabigol é garoto, tem potencial e tempo para amadurecer e aprender, mesmo considerando que esta leitura de jogo deveria ter sido estimulada e desenvolvida na base santista. As comparações com Gabriel Jesus ou quem quer que seja sempre serão injustas, porque cada um tem seu tempo.
As críticas e ironias, se bem aproveitadas, podem servir de motivação. Mas com humildade, entendendo o processo. Também inteligência para concluir que agora voltar ao Brasil não ajudará na evolução. Melhor ficar na Europa para aprender e mudar de patamar.
Saber ler o jogo dentro e fora de campo para estar preparado quando a oportunidade chegar. Não veio na eliminação da Copa da Itália para a Lazio. Mesmo sem Icardi em campo. É hora de engolir sapo e amassar barro para lá na frente ter uma história mais bonita para contar.
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