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André Rocha

Leitura de jogo: o maior obstáculo para Gabigol ganhar espaço na Inter

André Rocha

01/02/2017 07h11

gabigol inter

Muito já se debateu sobre as dificuldades e as poucas oportunidades de Gabriel Barbosa, o Gabigol, na Internazionale. Talvez uma negociação precipitada para um jovem de 20 anos. Ou o erro foi na escolha da equipe, que tem Icardi como titular absoluto no ataque.

Mas a própria observação de que o brasileiro concorre com o jogador mais avançado do 4-2-3-1 do técnico Stefano Pioli já mostra a visão que o clube tem do jogador. Mesmo se destacando no Santos como um ponteiro canhoto pela direita que busca o centro para se juntar ao centroavante e finalizar, o encaixe possível no momento é na frente.

Exatamente por conta da maior dificuldade que Gabigol apresentou ao se deparar com defesas compactas que trabalham com marcação por zona em um nível mais alto que o futebol apresentado por aqui: leitura de jogo.

Em resumo, a capacidade de resolver em campo que espaço ocupar ou atacar, a maneira de se desmarcar, o trabalho coletivo procurando os companheiros para tabelas e triangulações, a compreensão da hora de driblar, passar ou finalizar na zona de decisão, próximo ou dentro da área adversária.

A final olímpica no Maracanã é um bom exemplo. Mesmo descontando a tensão pela responsabilidade de conquistar o sonhado ouro em casa, Gabigol participou pouco do jogo trabalhando aberto pela direita. Teve mérito na entrega para cumprir a função tática na recomposição, mas penou diante dos setores bem coordenados da Alemanha, com pressão na bola e coberturas.

Não por acaso, quando Tite precisou definir o ataque para a estreia já decisiva nas Eliminatórias contra o Equador em Quito, Gabigol foi descartado e depois não teve mais chances. As lacunas no entendimento do jogo pesaram.

Por isso hoje é visto em Milão como um homem para ficar mais à frente e usar sua boa capacidade de finalização. Jogador de velocidade e um ou dois toques na bola. Sem muito trabalho de pivô. Participar menos, porém de forma decisiva. A má notícia é que para isso a Inter já tem Icardi e com muito mais eficiência – está entre os 10 maiores artilheiros da temporada, com 15 gols.

Gabigol é garoto, tem potencial e tempo para amadurecer e aprender, mesmo considerando que esta leitura de jogo deveria ter sido estimulada e desenvolvida na base santista. As comparações com Gabriel Jesus ou quem quer que seja sempre serão injustas, porque cada um tem seu tempo.

As críticas e ironias, se bem aproveitadas, podem servir de motivação. Mas com humildade, entendendo o processo. Também inteligência para concluir que agora voltar ao Brasil não ajudará na evolução. Melhor ficar na Europa para aprender e mudar de patamar.

Saber ler o jogo dentro e fora de campo para estar preparado quando a oportunidade chegar. Não veio na eliminação da Copa da Itália para a Lazio. Mesmo sem Icardi em campo. É hora de engolir sapo e amassar barro para lá na frente ter uma história mais bonita para contar.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.