Neymar não vive má fase, só mudou de função no Barcelona
Neymar marcou 41 gols em 52 partidas pelo Barcelona na temporada 2014/15. Talvez a melhor da carreira, com tríplice coroa e artilharia da Liga dos Campeões. Apenas oito assistências.
Na última o número de gols caiu para 31 em 50 jogos, mas o de assistências quase triplicou: 21 passes para gols. Agora são apenas nove bolas nas redes adversárias, cinco na liga espanhola, porém o número de assistências já chegou a 15, sete no campeonato nacional.
Queda de rendimento? Se compararmos com o de dois anos atrás, sem dúvida. Com Luis Enrique no comando técnico, encontrou o melhor posicionamento em campo, o trio MSN era uma novidade que assombrou o mundo empilhando gols e os sul-americanos se entendendo rapidamente com incrível sintonia.
O cenário atual é bem mais complexo. O Barça, com a base mantida, tem praticamente todas as ações ofensivas mapeadas pelos rivais. Rareou a jogada característica que proporcionava as finalizações de Neymar: arrancada em diagonal de Messi da direita para o centro, inversão para Neymar. Jordi Alba passava voando atraindo a marcação, Iniesta se aproximava como opção e o brasileiro cortava para dentro e concluía.
O lateral espanhol vem de lesão e agora disputa posição com o francês Lucas Digne, que não tem a mesma qualidade no apoio. Iniesta, que lhe servia tantos passes, é outro que não consegue ter sequência. Além disso, Messi agora joga centralizado em praticamente todos os jogos, formando uma dupla à frente com Suárez. Não por acaso os dois dispararam na artilharia do time catalão – 31 de Messi e 22 de Suárez, ambos empatados na artilharia do Espanhol com 16.
A força pela direita, com Daniel Alves e Rakitic se juntando ao gênio argentino para criar e Neymar tantas vezes completar do lado oposto, se perdeu também com a saída do lateral ainda sem reposição à altura e a queda de produção do meia croata.
Com tudo isso, Neymar se viu obrigado a se transformar num ponteiro típico. Quase um "winger" britânico, voltando com muito mais frequência para formar uma segunda linha de quatro com os três meio-campistas. Colaborando na organização de um sistema defensivo que vai mostrando mais solidez.
Na transição ofensiva, com os oponentes mais atentos à marcação, o craque brasileiro instintivamente se posiciona mais aberto para tentar alargar e depois desmontar o sistema defensivo na base da vitória pessoal em busca da linha de fundo. Não por acaso é o líder em dribles e o que mais sofre faltas na competição.
Ou seja, as circunstâncias obrigam Neymar a jogar mais para o time e menos para si. Prova de evolução tática e amadurecimento. Não vive má fase, só mudou de função. De atacante finalizador a ponteiro assistente. Ainda criativo, fundamental. Mas sem artilharia. O protagonismo fica para a seleção brasileira.
Aniversariante de ontem, talvez tenha pedido mais gols na celebração dos 25 anos. Para calar os críticos, continuar midiático em tempos de Gabriel Jesus na crista da onda e ter mais chances de brigar ao menos no top 3 dos melhores do mundo.
Mas certamente deve ter agradecido pela capacidade de adaptação em campo a um momento complicado do Barcelona que se recupera no Espanhol com os tropeços de Real Madrid e Sevilla, está com classificação encaminhada para mais uma final da Copa do Rei e se prepara para o mata-mata da Liga dos Campeões. Com um novo Neymar, decisivo nos dribles e passes.
(Estatísticas: Whoscored.com)
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