Papo com Dorival Júnior: jogar com qualidade, mas guerrear na Libertadores
O Santos teve momentos de espetáculo nos 6 a 2 sobre o Linense na estreia do Paulista na Vila Belmiro. Sinais do amadurecimento da proposta de Dorival Júnior, que sempre acreditou em um futebol bem jogado, mas estudou para aperfeiçoar seus métodos e o próprio modelo de jogo.
Depois de uma sessão de treinamentos na semana que mais gosta – "cheia", capaz de recuperar e trabalhar para recuperar os jogadores -, ele atendeu gentilmente ao blog para falar de suas ideias e ideais.
BLOG – O Santos faz o jogo posicional (o Caio Gondo explica AQUI), valorizando posse de bola, saída da defesa com qualidade e trocando passes no campo adversário. Raridade, ainda, no Brasil. De onde vem essa convicção se no país a maioria dos times vencedores atua de forma diferente?
DORIVAL JÚNIOR – Isso veio de uma necessidade minha ao ver o futebol brasileiro com o jogo tão descompactado, com muitos espaços entre os setores, ligações diretas dos zagueiros para se livrar da bola. Incomodava demais, não sentia prazer assistindo.
BLOG – Seu time joga com os laterais Victor Ferraz e Zeca atacando por dentro. Guardiola trabalhava assim no Bayern de Munique e agora, eventualmente, no Manchester City. Qual é a vantagem?
DORIVAL JÚNIOR – Na verdade eles flutuam, ora abertos, ora fechando. A vantagem é dificultar a marcação do adversário, porque eu posso recuar os jogadores de meio-campo para participar da saída de bola com bom passe, os pontas abrem e eles infiltram por dentro. É difícil de marcar, principalmente quando eles entram na área. O importante é que os movimentos estejam sincronizados, com reação rápida à mudança de comportamento. Perdeu a bola, já pressiona para retomá-la.
BLOG – Como você convence os jogadores, muitos deles acostumados com uma ideia diferente – marcação individual, zagueiros muito próximos da própria área para "fechar a casinha"? Não há conflito?
DORIVAL JÚNIOR – Vou responder usando o exemplo dos goleiros: eu não precisei pedir ao preparador deles que trabalhassem mais com os pés. Eles mesmos sentiram necessidade e hoje eu tenho o Vanderlei que antes completava três passes certos e agora acerta 27, já chegou a 33 em um jogo.
BLOG – As estatísticas ajudam?
DORIVAL JÚNIOR – Números, gráficos, imagens de outras equipes no mundo. Ações, passes, acertos, erros. Os jogadores entendem e eles mesmos criam desafios e metas entre eles. Querem saber o que fizeram de certo e errado. Nós mudamos o aquecimento, trocamos alguns trabalhos. É gratificante ver a mudança.
BLOG – Do que você mais se orgulha em todo esse processo?
DORIVAL JÚNIOR – 90% dos nossos gols são de jogadas trabalhadas. Dificilmente temos um gol "achado". Procuramos manter a velocidade no ataque, que é fundamental. Na defesa melhoramos o desempenho nas jogadas aéreas com bola parada. No Brasileiro sofremos 11 gols de bolas paradas, sendo três de pênalti. Melhoramos os números fora de casa e fomos protagonistas, propusemos o jogo na grande maioria das partidas do Brasileiro.
BLOG – Ninguém joga todas as partidas da temporada da mesma forma. Tem o clássico mais duro, o time com desvantagem numérica por expulsão, o adversário que se impõe em casa…Há um "Plano B" para essa sua filosofia?
DORIVAL JÚNIOR – O modelo não é e nem pode ser imutável. Em alguns jogos teremos que nos resguardar. Mas essa nossa proposta já foi testada em várias partidas, dentro ou fora de casa. Nós perdemos para o Atlético-PR fora com Yuri na zaga e controlando o jogo, acabamos sofrendo o gol em bola parada. Por outro lado, já vencemos com gol do Vitor Bueno iniciado com um passe vertical do Lucas Veríssimo. Eu prefiro investir na qualidade.
BLOG – Como se adapta uma proposta de jogo inspirada nos grandes times da Europa, com temperatura amena e gramados impecáveis, à nossa realidade com calor e alguns campos impraticáveis?
DORIVAL JÚNIOR – É uma dificuldade mesmo, principalmente nos estaduais. Não há padronização e alguns ficam bem prejudicados pelas chuvas que são muito freqüentes nesta época do ano. Sem contar o calendário. Mas o Santos tem respondido muito bem. O maior problema é quando não há tempo para treinar, só recuperar os atletas.
BLOG – Na Libertadores a ideia é manter a proposta dentro e fora de casa?
DORIVAL JÚNIOR – Não vamos mudar, mesmo considerando que é outro nível, outra maneira de jogar, muitas vezes com arbitragem passiva, permitindo a violência. Vamos jogar, mas saber guerrear também, se for preciso.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.