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André Rocha

Flamengo é 100% em resultado, mas não evoluiu o desempenho em jogos grandes

André Rocha

12/02/2017 22h25

Os três primeiros jogos oficiais contra equipes de menor expressão no Carioca deixaram a impressão de que o objetivo maior de Zé Ricardo na temporada começava a ser alcançado: tornar o Flamengo mais criativo, imprevisível.

Por isso a escalação de Mancuello como ponta articulador para tornar o 4-2-3-1 mais móvel e criar espaços dentro de uma ideia de propor o jogo, ocupando o campo de ataque com posse de bola.

Foram 11 gols marcados e um sofrido em três partidas. Protagonismo, trocas de passes, mobilidade, pressão na saída de bola dos adversários. Mancuello saindo da ponta e Pará, Arão, Diego e até Guerrero aparecendo pela direita. Um repertório mais amplo.

Mas bastou enfrentar dois times grandes, com elencos mais qualificados e com postura defensiva por conta do contexto para o time rubro-negro repetir um equívoco dos momentos mais complicados do Brasileiro de 2016: a insistência em tocar a bola até abrir o jogo e levantar na área.

Foram 25 cruzamentos diante do Grêmio nos 2 a 0 pela estreia na Primeira Liga no Mane Garrincha e mais 31 nos 2 a 1 sobre o Botafogo no Engenhão que garantiram classificação para as semifinais da Taça Guanabara e os 100% de aproveitamento na temporada.

Mesmo considerando que é um reinício de trabalho com pouco mais de um mês e jogos seguidos, sem muito tempo para treinamentos, não deixa de ser algo a ser observado e corrigido. Principalmente porque sem espaços e diante de oponentes mais atentos e bem posicionados, Mancuello apareceu pouco.

Porque o time, na dificuldade, ainda procura o flanco para efetuar o cruzamento. Usando pouco as diagonais, as tabelas no centro. Sem ideias. Toca, toca, toca e joga na área. Neste cenário, a função de Mancuello perde o sentido e a equipe uma peça para as combinações com Pará e Arão.

Não por acaso, o argentino deu lugar a Berrío no segundo tempo das duas partidas e Everton seguiu em campo. Confortável com a proposta antiga, o ponta velocista foi destaque com dois gols e boas jogadas.

Diego segue com liderança, inteligência, presença de área e bons passes. Mas o toque de primeira para fazer o jogo fluir, furar as linhas de marcação e acionar o companheiro que se desloca em situação mais confortável não acontece. Na proposta de Zé Ricardo é fundamental para criar a brecha na retaguarda postada. Missão para o meia criativo.

Há também falhas defensivas de quem joga com a última linha adiantada e não consegue ter intensidade para manter a pressão sobre o adversário com a bola em boa parte do tempo. Contra o Bota, erros de posicionamento em cruzamentos que ocasionaram duas finalizações no travessão de Leandrinho poderiam custar o empate com os reservas do rival que só pensa em Libertadores.

As cinco vitórias transmitem confiança e tranqüilidade para o trabalho seguir. Mas a seqüência precisa de evolução. Nos dois jogos maiores até aqui o Flamengo que se viu foi o estagnado, que sofreu e, na reta final, deixou de disputar o título nacional do ano passado. O que Zé Ricardo não quer ver em 2017.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.